domingo, 31 de janeiro de 2016

GRANDES PINTORES = Pissarro

 PISSARRO = França, 1830-1903
 PISSARRO
 PISSARRO
 PISSARRO
 PISSARRO
 PISSARRO
 PISSARRO
 PISSARRO
 PISSARRO
 PISSARRO
 PISSARRO
PISSARRO = França, 1830-1903
P

POESIA = LEDO iVO


O Ladrão


Quando deixei Maceió, fechei a porta do mar
E enxotei os navios que insistiam em seguir-me.
Tive de aninhar o vento nos corredores
Das casas brancas que guardam lacraias.
Mas o mar me acompanhou até nos sonhos,
Igual ao sol azul que sustenta o mormaço.
O vento veio voando e era um bando de pássaros.
A chuva da minha infância continua caindo
Com o seu séquito de tanajuras e caranguejos.
Até as dunas caminham ao meu encontro
E me rodeiam, exigindo que eu devolva
A chave de areia e o oceano roubado.

LEDO IVO

MACEIÓ-AL = 1924-2013

CRÔNICA = HUMBERTO DE CAMPOS

A Mulata


26 de janeiro
Aumentados com a descoberta do Brasil os limites civilizáveis do mundo, compreendeu Jeová, do seu trono de nuvens, a necessidade de multiplicar o homem, para povoar, em nome da sua gloria, as novas regiões desbravadas. De que espécie devia ele encher, porém, a terra maravilhosa, que se mostrava tão promissora? A raça branca, que ele tanto amava e protegia, dominava, já, na Europa tumultuosa. A Ásia, berço da humanidade e dos grandes mistérios eternos, fervilhava de homens amarelos, que a enchiam toda, e que se haviam derramado, aventureiros, pelas ilhas circunvizinhas. À própria raça negra, que tanto se lamentava da sua condição e do seu destino, coubera a África inteira, de que se tornara senhora. Fazia-se mister, pois, criar um tipo novo, uma raça nova e bendita, que se apropriasse com autoridade e com orgulho, da nova terra exumada das ondas.
Resolvido isso, tomou o Senhor do seu camartelo, do seu buril, da sua verruma, do material, em suma, com que trabalhava na fabricação meticulosa dos seres vivos, e, misturando um pouco da pasta com que fizera o negro, com outra, absolutamente igual na dosagem, de que fabricara o branco, formou com as duas, uma pasta morena e macia, em que se pôs a modelar, cuidadoso, uma figura de mulher.
Concluída a obra, o estatuário quedou fascinado. Última flor do jardim humano em que pusera toda a sua experiência de escultor inexcedível, a nova Afrodita resumia, com os seus olhos negros, os seus cabelos crespos, as suas linhas voluptuosas e a sua pele acentuadamente castanha, todos os encantos e todas as graças da criação. Deslumbrado, encantado, embevecido, Jeová mirou-a, remirou-a, examinou-a, banhou-a com a luz dos seus olhos, e, de repente, com um sorriso, teve uma idéia. Foi ao laboratório, tomou nas mãos uma folha de cebola, um dente de alho, amassou-os, triturou-os, diluiu-os e, voltando à estatua, friccionou-lhe pausadamente os ombros, as espáduas e a parte superior e interna dos braços. Em seguida, ordenou-lhe, recuando: - "Surge et ambula!"
A estatua moveu-se, preguiçosa, e com um andar lúbrico, remexido, sensual, desceu do solo em que fora polida.
Jeová sorriu, de novo, e, com orgulho paternal, apontou-lhe para debaixo do braço, dizendo-lhe, como dissera a Constantino, na legenda sagrada: - "In hoc signo vinces!"
A mulata abriu os lábios num sorriso dengoso, e, como o Criador lhe indicasse, com um gesto, o caminho da terra, através das estrelas, rumou, enamorada de si própria, em direção ao Brasil. Vinte e quatro horas depois, porém, batia, de novo, à porta da oficina celeste.
- Você por aqui, ainda? - estranhou Jeová, espantado.
A mulata baixou os olhos, procurando justificar-se:
- Foi impossível chegar ao meu destino, meu Senhor; e eu, então, regressei, ali, das nuvens.
- Por que? - trovejou o Criador, indignado.
E ela, corando, envergonhada: - As almas dos portugueses não me deixaram passar...

HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA  =  1886 / 1934


VÍDEO = Glen Miller


POESIA = Altair Leal


Rua Que Impera A Dor

Passeando no centro do Recife, turismo? passagem?
Paisagem da Rua do Imperador,
Deparo com crianças pobres; magras não. Ossulentas.
Dormindo e sonhando em chão cuspido.
O que será, santos? miragem?
O homem, o transeunte ausente,
Pedestre em pensamentos do trabalho,
Caminha sem culpas, pisando em sonhos,
Calçadas, restos de vida (carente).
Amanhã será outro dia. Será?
Não, é o mesmo dia!
Só muda o tempo, as chances de sonhar.
Não há chances, não há sonhos (bobagem)
Suponho. A realidade é outra história.
Pego um ônibus de cabeças cheias,
E fecho o ciclo da viagem.

ALTAIR LEAL

LIMOEIRO-PE  =  1960

CRÔNICA = Antônio Maria




A Mesa Do Café
(Antônio Maria, in “Crônicas”, 26/09/1961)

Menino só sabe que é feio, no colégio, quando o padre escolhe os que vão ajudar à missa, os que vão sair de anjo, na procissão, e os que vão constituir a diretoria do Grêmio Mariano.
Eu soube que não era bonito em 1928, no Colégio Marista de Recife. Nunca fui escolhido. Mas sem a menor tristeza, sem concordar até. Aquele julgamento era precipitado, pois (estava convencido) ainda não havia nada de definitivo sobre o bonito e o feio, a beleza e a fealdade. Quais seriam as demarcações? A exata limítrofe, quem seria capaz de determinar? Se não existia a explicação lógica do feio e do bonito, a notícia da minha feiura não me causava mal nenhum. Ao contrário, livrava-me dos tributos que teria que pagar se fosse bonito, ajudando missa e saindo de anjo, à frente das procissões.
Na mesa do café, eramos cinco irmãos. Havia bolo de mandioca, requeijão, bananas fritas, pão torrado e bolacha d’água. Eramos cinco irmãos e, dos cinco, quatro eram bonitos. Vá lá, eu era o feio. Então, por que minha mãe gostava mais de mim? Ela, que nos zelava a todos, que nos conhecia pelo avesso e pelo direito, por que gostava mais de mim? De pena não era, porque pena é uma coisa e amor é outra. Menino conhece. O gesto complacente, por mais carinhoso, é sempre vacilante e triste. O gesto de amor chega a ser bruto, de tão livre, alegre e descuidado.
Minha mãe gostava mais de mim. Eu sabia, e ela sabia que eu sabia. Em tudo a nossa cumplicidade. Na fatia do bolo, na talhada de requeijão e no sobejo do seu copo d’água. Nossa cumplicidade até hoje existe, quando de raro em raro nos encontramos.
Da mesa do café víamos pela vidraça os canteiros de terra negra e as rosas de maio. Vinha o cheiro úmido da terra molhada, mais que o das pálidas rosas da minha infância.
Minha mãe e eu. Nossos olhos tão parecidos.
Minha mãe só tem um defeito. Não ser minha filha. Sempre foi metida a saber mais que eu.
Só soube que era feio quando amei pela primeira vez. Vi-me, então, corajosamente… e não era como gostaria de ser. No coração, um amor tão bonito. Ninguém iria acreditar, mesmo dizendo, mesmo eu explicando, mesmo eu jurando.
Apaguei a luz, tocava o concerto nro. 3 de Beethoven e, no fnal, apesar do tom ser menor, o lirismo era tão ardente que tudo ficou entendido, entre mim e a minha feiúra: eu a amava e não a abandonaria até a morte.

ANTÔNIO MARIA
RECIFE-PE = 1921-1964

HUMOR













PENSAMENTOS = Diversos







GRANDES PINTORES


 CÂNDIDO PORINARI =  Brodowski-SP, 1903-1962
 
 CÂNDIDO PORTINARI
 CÂNDIDO PORTINARI
 CÂDIDO PORTINARI
 CÂNDIDO PORTINARI
 CÂNDIDO PORTINARI
 CÂNDIDO PORTINARI
 CÂNDIDO PORTINARI
 CÂNDIDO PORTINARI
 CÂNDIDO PORTINARI
 CÂNDIDO PORTINARI
CÂNDIDO PORTINARI = Brodowski-SP, 1903-1962

domingo, 17 de janeiro de 2016