domingo, 30 de novembro de 2014

VÍDEO = Valsa Do Imperador


PENSAMENTOS = Diversos




GRANDES PINTORES

 VLADIMIR KUSH = Rússia, 1965
 VLADIMIR KUSH
 VLADIMIR KUSH
 VLADIMIR KUSH
 VLADIMIR KUSH
 VLADIMIR KUSH
 VLADIMIR KUSH
 VLADIMIR KUSH
 VLADIMIR KUSH
 VLADIMIR KUSH
VLADIMIR KUSH
VLADIMIR KUSH = Rússia, 1965

CONTO = Artut Azevedo



Conjugo Vobis


A formosa Angelina, filha do Seabra, tinha um namorado misterioso, que via passar todas as tardes por baixo das suas janelas. Era um bonito rapaz, dos seus trinta anos, esbelto, elegante, sempre muito bem trajado, sobrecasaca, chapéu alto, botinas de bico finas, bengala de castão de prata, pincenez de ouro.
Limitava-se a cumprimentá-la sorrindo. Ela sorria também, para animá-lo, mas, qual!, o moço parecia de uma timidez invencível, e o romance não passava do primeiro capítulo.
- Com certeza um rapaz bem colocado, pensava Angelina, mas o diabo é que não se explica, e não hei de ser eu a primeira a chegar à fala!
Afinal, um dia, passando, como de costume, ele atirou para dentro do corredor da moça um bilhete em que estavam estas palavras: "Amo-a, e desejava saber se sou correspondido."
No dia seguinte ele apanhou a resposta, que ela atirou à rua: "Não posso dizer que o amo, porque não o conheço, mas simpatizo muito com a sua pessoa.
Diga-me quem é."
* * *
Nessa mesma tarde, por uma dessas fatalidades a que estão sujeitos os corações humanos, o Seabra, pai de Angelina, entrou em casa como uma bomba, esbaforido, carregado com muitos embrulhos, suando por todos os poros, e intimou a esposa e a filha (eram toda a sua família) a fazerem as malas, porque no dia seguinte, às 5 horas da manhã, partiam para Caxambu.
- Mas isto assim de repente! - protestou a velha. - Vai ser uma atrapalhação!
- Não quero saber de nada! O médico disse-me que, se eu não partisse imediatamente para Caxambu, era um homem morto! Eu devia até seguir pelo noturno! Estou com uma congestão de fígado em perspectiva!.
Angelina ficou desesperada por não ter meios de prevenir o moço e lá partiu para Caxambu com o coração amargurado.
* * *
Não a lastimem compadecidas leitoras: com 10 dias de Caxambu Angelina tinha se esquecido completamente do namorado. Isso não foi devido aos efeitos das águas, que não servem para o coração como servem para o fígado, mas à presença de um rapaz que estava hospedado no mesmo hotel que a família Seabra e, em correção e elegância, nada ficava a dever ao outro.
Era um médico do Rio de Janeiro, recentemente formado, moço de talento e de futuro, que, de mais a mais, tinha fortuna própria.
O Seabra, que estava satisfeito da vida, porque o seu fígado melhorava a olhos vistos, acolheu com entusiasmo a idéia de um casamento entre Angelina e o jovem doutor, e era o primeiro a meter-lhe a filha à cara.
Em conclusão, o casamento foi tratado lá mesmo, sob o formoso e poético céu do sul de Minas, para realizar-se, o mais breve possível, na Capital Federal.
* * *
Regressando das águas, onde se demorou um mês, Angelina viu passar o primeiro namorado, que olhou para ela com uma expressão de surpresa e de alegria, mas a moça fechou o semblante. O semblante e a janela. E, para nunca mais ver passar o importuno, deixou dali em diante de debruçar-se no peitoril.
* * *
No dia do casamento, os noivos, as famílias dos noivos, as testemunhas e os convidados lá foram para a pretoria.
- Tenham a bondade de esperar - disse-lhes o escrivão. - O doutor não tarda aí.
Sentaram-se todos em silêncio, e pouco depois o pretor fazia a sua entrada solene.
Angelina, ao vê-lo, tornou-se lívida e esteve a ponto de perder os sentidos. Ele estava atônito e surpreso. Era o primeiro namorado.
O mísero disfarçou como pôde a comoção, e resignou-se ao destino singular que o escolhia, a ele, para unir a outro à mulher que o seu coração desejava.
* * *
Quando todos os estranhos se retiraram, ficando na sala da pretoria apenas o juiz e o escrivão, este perguntou àquele: - Que foi isso, doutor? O senhor sofreu qualquer abalo! Não parecia o mesmo!
Que lhe sucedeu?
O moço confiou-lhe tudo.
O escrivão, que era um velhote retrógrado e carola, ponderou:
- Ora, aí está um fato que só se pode dar no casamento civil;
no religioso é impossível.

ARTUR AZEVEDO
SÃO LUÍS-MA  =  1855-1908

POESIAS = Diversas




VÍDEO = Henry Jerome


GRANDES PINTORES

TAMARA DE LEMPICKA = Polônia, 1898-1980
TAMARA DE LEMPICKA
TAMARA DE LEMPICKA
TAMARA DE LEMPICKA
TAMARA DE LEMPICKA
TAMARA DE LEMPICKA
TAMARA DE LEMPICKA
TAMARA DE LEMPICKA
 TAMARA DE LEMPICKA
 
TAMARA DE LEMPICKA
TAMARA DE LEMPICKA = Polônia, 1898-1980

POESIA = Ascenso Ferreira



Maracatu


Zabumba de bombos,
Estouro de bombas,
Batuques de ingonos,
Cantigas de banzo,
Rangir de ganzás...

          — Luanda, Luanda, onde estás?
          Luanda, Luanda, onde estás?

As luas crescentes
De espelhos luzentes,
Colares e pentes,
Queixares e dentes
De maracajás...

          — Luanda, Luanda, onde estás?
          Luanda, Luanda, onde estás?

A balsa do rio
Cai no corrupio
Faz passo macio,
Mas toma desvio
Que nunca sonhou...

          — Luanda, Luanda, onde estou?
          Luanda, Luanda, onde estou?


ASCENSO FERREIRA
PALMARES-PE  =  1895 / 1965

CONTO = Lima Barreto



O Morcego
Correio da Noite, Rio, 2-1-1915



O carnaval é a expressão da nossa alegria. O ruído, o barulho, o tantã espancam a tristeza que há nas nossas almas, atordoam-nos e nos enche de prazer.
Todos nós vivemos para o carnaval. Criadas, patroas, doutores, soldados, todos pensamos o ano inteiro na folia carnavalesca.
O zabumba é que nos tira do espírito as graves preocupações da nossa árdua vida.
O pensamento do Sol inclemente só é afastado pelo regougar de um qualquer Iaiá me deixe.
Há para esse culto do carnaval sacerdotes abnegados.
O mais espontâneo, o mais desinteressado, o mais lídimo é certamente o Morcego.
Durante o ano todo, Morcego é um grave oficial da Diretoria dos Correios, mas, ao aproximar-se o carnaval, Morcego sai de sua gravidade burocrática, atira a máscara fora e sai para a rua.
A fantasia é exuberante e vária, e manifesta-se na modinha, no vestuário, nas bengalas, nos sapatos e nos cintos.
E então ele esquece tudo: a pátria, a família, a humanidade. Delicioso esquecimento!... Esquece e vende, dá, prodigaliza alegria durante dias seguidos.
Nas festas da passagem do ano, o herói foi o Morcego.
Passou dois dias dizendo pilhérias aqui, pagando ali; cantando acolá, sempre inédito, sempre novo, sem que as suas dependências com o Estado se manifestassem de qualquer forma.
Ele então não era mais a disciplina, a correção, a lei, o regulamento; era o coribante inebriado pela alegria de viver. Evoé, Bacelar!
Essa nossa triste vida, em país tão triste, precisa desses videntes de satisfação e de prazer; e a irreverência da sua alegria, a energia e atividade que põem em realizá-la, fazem vibrar as massas panurgianas dos respeitadores dos preconceitos.
Morcego é uma figura e uma instituição que protesta contra o formalismo, a convenção e as atitudes graves.
Eu o bendisse, amei-o, lembrando-me das sentenças falsamente proféticas do sanguinário positivismo do senhor Teixeira Mendes.
A vida não se acabará na caserna positivista enquanto os “morcegos” tiverem alegria...


LIMA BARRETO
RIO DE JANEIRO-RJ = 1881-1922

PENSAMENTOS = Diversos




HUMOR