domingo, 29 de março de 2015

VÍDEO = Aracaju-SE


ARACAJU-SE









GRANDES PINTORES

 ATTHUR BOYD = Austrália, 1920-1999
 ARTHUR BOYD
 ARTHUR BOYD
 ARTHUR BOYD
 ARTHUR BOYD
 ARTHUR BOYD
 ARTHUR BOYD
 ARTHUR BOYD
 ARTHUR BOYD
 ARTHUR BOYD
ARTHUR BOYD = Austrália, 1920-1999

POESIA = Manoel de Barros


PENSAMENTOS = Diversos





POESIA = César Leal





Análise Da Sombra

 
Analisa-se da sombra
seu caráter permanente:
pela manhã retraindo
a imagem, à tarde crescente.

E aquele instante em que a sombra
adelgaça o corpo fino
como se no chão entrasse
quando o sol se encontra a pino.

Quem a esse instante mira
em oposição ao lado
onde o sol era luz antes
logo vê o passo vago

da sombra que agora cresce
o corpo de onde se filtra
até fundir-se no limbo
que em torno dela gravita.

Forma esse limbo a coroa
que as sombras traz federadas:
soma de todas as sombras
num só nó à noite atadas.

CÉSAR LEAL
SABOEIRO-CE = 1924-2013

CRÔNICA = Luiz Vilela



Coisas De Hotel

            Era meu vizinho, morava no quarto ao lado. Hoje, de manhã, quando a servente veio fazer a limpeza, encontrou-o morto. Eu não estava na hora, já tinha saído para o trabalho; e de tarde, quando cheguei, já tinham levado o corpo. Morreu durante a noite. Parece que ainda não sabem se foi morte natural ou suicídio.
            Ele chamava-se João. Até ontem eu pensava que o seu nome fosse Alberto. Deve ser porque alguma vez ouvi, por engano, alguém se referir a ele com esse nome. Não me lembro de quem ou quando foi, mas só pode ser, porque nunca conversamos e ele nunca teve a oportunidade de me dizer o seu nome, ou eu de perguntar. Apesar de vizinhos, nunca fomos um ao quarto do outro. Mas isso não tem nada de mais, é uma situação comum num hotel; há pessoas que passam anos morando em quartos vizinhos e às vezes não trocam nem mesmo uma palavra.
            Havia talvez mais de ano já que ele morava aqui. Lembro-me dele no hotel há um bom tempo, embora não me recorde exatamente da primeira vez em que o vi. A não ser quando é uma pessoa com alguma característica marcante, a gente não presta muita atenção nos hóspedes novos; uma hora a gente cruza no corredor e observa que a pessoa é nova no hotel, mas pode ser que antes disso, ontem ou anteontem, já tenhamos passado por ela mais de uma vez e nem reparado. É que há sempre gente chegando e saindo, e quem  já mora no hotel há mais tempo se acostuma com esse movimento.
            Ele era uma pessoa comum, não se distinguia por nada. A velha do trinta e quatro, por exemplo: esta, desde o primeiro dia em que a vi me chamou a atenção, com aquele vestido quase batendo nos pés, o coque, e a cara fantasmagórica. Até hoje, quando passo por ela, ainda a observo —  de maneira discreta, evidentemente. Mas ele, não. Lembrando-me agora das vezes em que o vi, que cruzei com ele no corredor, sei dizer que ele era de estatura média, idade mais ou menos de uns trinta anos, o andar lento, sempre de terno escuro e gravata. Pouco mais do que isso eu poderia dizer. E não falo assim da cor dos olhos, ou, por exemplo, se ele tinha alguma cicatriz no rosto; falo de sua aparência. Era uma pessoa alegre? Triste? Preocupada? Não saberia dizer; pelo menos, com segurança. Cumprimentávamo-nos, e posso dizer que ele era uma pessoa educada. Mas não me lembro de alguma vez que ele tenha me sorrido, além desse vago sorriso que acompanha um bom-dia ou um boa-noite. Mas nem por isso, também, tinha cara de poucos-amigos. A impressão que me fica dele, agora que ele está morto e que me lembro das vezes em que o vi, é a de uma pessoa simpática, educada, calada.
            Chego a pensar que poderíamos ter sido bons amigos. É um pensamento que me vem agora dessas impressões; na verdade, não há nada que me garanta isso, pois eu não sabia, nem sei ainda, praticamente nada a respeito dele. Nem o seu nome eu sabia... Julgo pelas impressões. É uma pessoa de quem eu teria prazer em me aproximar e puxar conversa, tornar-me amigo. Quanto a ele, não sei, não posso ter idéia do que ele pensava em relação a mim. Mas imagino que ele me encarasse também com alguma simpatia, já que, pelo menos nas aparências, tínhamos alguma coisa em comum: esse mesmo jeito calado.
            Penso tudo isso agora que ele morreu e que essas coisas não poderão mais acontecer. Mas, talvez, eu já pensasse antes; apenas não cheguei a expressá-lo claramente para mim, como faço agora. É que nunca dei maior atenção à coisa. Tenho a cabeça sempre muito cheia de preocupações. Meu serviço é muito absorvente; mesmo no hotel, quando chego à noite, é difícil pensar em algo que não esteja relacionado a ele. E quando isso me cansa ou aborrece, o que geralmente faço é ir a um cinema, ou então beber com algum amigo no bar. Se estou com preguiça de sair ou sem vontade, ligo o rádio e fico escutando música até vir o sono. Nunca, nessas ocasiões, pensei no vizinho.
            Para dizer a verdade, era como se ele não existisse, ou que tanto fazia ele existir como não existir. Eu sabia que havia um outro quarto ao lado do meu e que nesse quarto morava outra pessoa que era aquele homem que eu via no corredor e cumprimentava; mas nunca me pus a pensar detidamente nisso. Eu tinha, ali no hotel, o meu quarto para dormir; e fora, na rua, o serviço, os amigos e as diversões. Era isso o meu mundo. O homem do quarto vizinho não entrava nele; eu não sentia necessidade dele, e por isso não pensava nele. Pode ser que o mesmo acontecesse com ele: talvez também não sentisse necessidade de mim e não pensasse em mim.
            Agora ele morreu, e penso nele; mas é apenas porque sua morte me impressiona. Pois, fico lembrando, ontem mesmo passei por ele e o cumprimentei — e agora ele está morto. Mas não sinto nenhuma espécie de tristeza. Não éramos amigos. Não chegávamos a ser nem mesmo conhecidos. Simplesmente vizinhos. Como já houve outros antes dele, de que ainda me lembro ou que já esqueci, e como haverá outros depois dele. Daqui a alguns dias, talvez até amanhã mesmo, outra pessoa virá morar no lugar dele. Há sempre gente procurando quartos, e o hotel não quer perder dinheiro.

LUIZ VILELA
ITUIUTABA-MG = 1942

VÍDEO = Franz Lehar


CHARGES















POESIA = Bastos Tigre



Lembranças Do Passado


Entra pela velhice com cuidado
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertam lembranças do passado,
Sonhos de glórias, ilusões de amores.

Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores.
Mas lavra ainda e planta o teu eirado,
Que outros virão colher quando te fores.

Não te seja a velhice enfermidade,
Alimenta no espírito a saúde,
Luta contra as tibiezas da vontade.

Que a neve caia, o teu ardor não mude.
Mantém-te jovem, pouco importa a idade.
Tem cada idade a sua juventude...


BASTOS TIGRE
RECIFE-PE = 1882-1957


GRANDES PINTORES

 CORREGGIO = Itália, 1489-1534
 CORREGGIO
 CORREGGIO
 CORREGGIO
 CORREGGIO
 CORREGGIO
 CORREGGIO
 CORREGGIO
 CORREGGIO
CORREGGIO = Itália, 1489-1534