sábado, 28 de setembro de 2013

VÍDEO = Jules Massenet


RECIFE-PE = B R AS I L
















POESIA

MAURO MOTA
RECIFE-PE  =  1911-1984


Domingo Na Praça



Na praça, este domingo
não é de hoje: é antigo.

O banco, o lago, a relva
para onde é que me levam?
Ai, dezembro de acácias,
esta praça não passa.
E essa gente depressa
(a moça e a bicicleta)

passa para deixar-se
um pouco nesta tarde.
Ai, dezembro de acácias,
este cheiro, esta música...


Sou, domingo na praça,
um momento o que fui.


CONTO

SACHA GUITRY
RÚSSIA  =  1885-1957

O Espelho


Esta aconteceu na China. Um chinês preparava-se para ir ao mercado, que fica a alguns dias de viagem. Está anoitecendo. O chinês despede-se da mulher.
— Até à volta, Mel de Crisântemo. Que quer que lhe traga do mercado?
— Eu queria um pente.
— Um pente? Está bem. Mas eu tenho que comprar tanta coisa, como é que me vou lembrar?
— Não precisará mais do que olhar para a lua. Veja: a lua é crescente. Pois bem, o pente que eu quero é exatamente da forma da lua crescente.
— Até à volta.
E o chinês parte. Chega ao mercado. Faz suas compras. Terminando-as, já bem tarde, lembra-se da promessa, mas não se lembra muito bem do objeto desejado pela mulher.
Encontra-se, nesse momento, junto de um mercador e lhe diz:
— Pois veja só: prometi levar um presente a minha mulher, mas não me lembro mais o que foi. Ah! sim, espera. Estou-me lembrando agora que ela me disse para olhar a lua.
— Olhe, é lua cheia.
(A lua, que estava no seu primeiro quarto no dia da partida do chinês, agora era cheia).
— Deve ser um objeto redondo.
E o chinês compra um espelho, paga-o, faz um pacote e põe-se a caminho para a volta.
Ao chegar em casa, diz-lhe a mulher:
— Bom dia, meu marido. Trouxe-me o que eu lhe pedi? 
— Naturalmente. Aqui está.
E o chinês dá o pacote à mulher, que apressadamente o abre. Essa mulher nunca tinha visto um espelho. E vendo nele um vulto de mulher, fica indignada:
— Meu marido, comprou outra mulher!
E Mel de Crisântemo chora todas as lágrimas de seu pequenino coração. Os seus olhos chamam a atenção de sua mãe.
— Ah! mamãe, mamãe — grita ela. — Venha ver. Meu marido trouxe para casa outra mulher.
A mãe toma o espelho, olha-o e diz à filha:
— Fica sossegada: é tão velha e tão feia!


Sacha Guitry nasceu em São Petersburgo, Rússia, no ano de 1885. Filho do famoso ator Lucien Guitry, dedicou-se desde muito cedo ao teatro, ora como autor, ora como ator ou diretor. Aos vinte e um anos de idade, revelou-se comediógrafo de méritos invulgares com a peça "Nono" — um dos grandes êxitos da época, e ainda hoje de vez em quando ressuscitada nos melhores teatros da Europa. Vivacidade, ironia, graça e originais dotes de psicólogo, eis algumas das características que marcam o teatro de Sacha Guitry, assim como os seus contos e crônicas. 
Disputou, durante muito tempo, com Tristan Bernard, o título de homem mais espirituoso da França. Se o primeiro dominou no período anterior à guerra de 1914, é indiscutível que cabe a Guitry o cetro no período que vai de 1920 a 1940. Homens como Bernard Shaw, Anatole France, Mirbeau e tantos outros mais, prodigalizaram louvores à obra deste escritor, não faltando mesmo quem o comparasse a Molière. Ressalvando o evidente exagero, e guardada a devida proporção, ainda assim é muito o que sobra para a glória de Sacha Guitry, espírito inquieto, buliçoso, que não contente com as experiências e glórias teatrais, tentou ainda o cinema, dirigindo ou representando filmes hoje incorporados ao que de melhor produziu o cinema francês.
A arte de Guitry se caracteriza por uma extrema espontaneidade e uma grande riqueza de invenção cômica. Pode-se, diz um crítico, criticá-lo pela solidez de construção de algumas de suas peças ou livros, mas jamais será censurado por ausência de vivacidade e de graça.

O texto acima foi extraído do livro “Maravilhas do Conto Francês”, Editora Cultrix – São Paulo, 1958, pág. 319. Seleção de Jean P. L. Bellade e organização de Diaulas Riedel.


GRANDES PINTORES

 ILIA MASHKOV = Rússia, 1881-1944
 ILIA MASHKOV
 ILIA MASHKOV
 ILIA MASHKOV
 ILIA MASHKOV
 ILIA MASHKOV
ILIA MASHKOV = Rússia, 1881-1944

VÍDEO = Noel Rosa


PENSAMENTOS DE MILLÔR

MILLÔR FERNANDES

RIO DE JANEIRO-RJ  =  1923-2012


A maior vantagem da comida macrobiótica é que, por mais que você coma, por mais que encha o estômago, está sempre perfeitamente subalimentado.

Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.

Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.

De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.

Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.

Não devemos resistir às tentações: elas podem não voltar.

O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde.

O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris.

O pior casamento é o que dá certo.

Se todos os homens recebessem exatamente o que merecem, ia
sobrar muito dinheiro no mundo.

É porque ninguém gosta de trabalhar que o mundo progride.

Por mais imbecil que você seja, sempre haverá um imbecil maior para
achar que você não o é.

Se durar muito tempo, a popularidade acaba tornando a pessoa
impopular.

O mal de se tratar um inferior como igual é que ele logo se julga
superior.




POESIA

MANUEL BANDEIRA
RECIFE-PE  =  1886-1968


Madrigal Muito Fácil


Quando de longe te vi,
Quando de longe te via,
Gostei logo bem de ti.
Como é bonita! eu dizia.

Mas por enganar aquilo
Que dentro de mim senti,
Que dentro de mim sentia,
Pensei de mim para mim
Que a distância é que fazia
Me pareceres assim.

Não era a distância não!
Pois chegou aquele dia
Em que te apertei a mão
Sem saber o que dizia.
E vi que eras mais bonita
Do que para o meu sossego
A distância te fazia.


Quanto mais de perto, mais
Bonita, era o que eu dizia!
E desde então imagino
Que mais linda te acharia,
Mais fresca, mais desejável
Mais tudo enfim, se algum dia
- Dia ou noite que marcasses -
Se algum dia me deixasses
Te ver de mais perto ainda!

HUMOR (Clique nas Imagens para aumentá-las)










POESIA IMAGEM = Manoel Xudu


POESIA

MACHADO DE ASSIS
RIO DE JANEIRO-RJ  =  1839-1908

Bons Amigos

Abençoados os que possuem amigos,
os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede
não se compra nem se vende
amigo a gente sente!


Benditos os que sofrem por amigos
os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala
não questiona nem se rende
amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos
os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora
amigo não tem hora
pra consolar!

Benditos sejam todos os amigos
que acreditam na tua verdade
ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção
é a base, quando falta o chão.

Benditos sejam todos os amigos
de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros
da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

CRÔNICA

MÁRIO PRATA
UBERABA-MG  =  1946

As Mulheres De 30


O que mais as espanta é que, de repente, elas percebem que já são balzaquianas. Mas poucas balzacas leram A Mulher de Trinta, de Honoré de Balzac, escrito há mais de 150 anos. Olhe o que ele diz: 'Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. (...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer'.
Madame Bovary, outra francesa trintona, era tão maravilhosa que seu criador chegou a dizer diante dos tribunais: 'Madame Bovary c'est moi'. E a Marilyn Monroe, que fez tudo aquilo entre 30 e 40?
Mas voltemos a nossa mulher de 30, a brasileira-tropicana, aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando os filhos ou num balcão de bar bebendo um chope sozinha. Sim, a mulher de 30 bebe. A mulher de 30 é morena. Quando resolve fazer a besteira de tingir os cabelos de amarelo-hebe passa, automaticamente, a ter 40. E o que mais encanta nas de 30 é que parece que nunca vão perder aquele jeitinho que trouxeram dos 20. Mas, para isso, como elas se preocupam com a barriguinha!
A mulher de 30 está para se separar. Ou já se separou. São raras as mulheres que passam por esta faixa sem terminar um casamento. Em compensação, ainda antes dos 40 elas arrumam o segundo e definitivo.
A grande maioria tem dois filhos. Geralmente um casal. As que ainda não tiveram filhos se tornam um perigo, quando estão ali pelos 35. Periga pegarem o primeiro quarentão que encontrarem pela frente. Elas querem casar.
Elas talvez não saibam, mas são as mais bonitas das mulheres. Acho até que a idade mínima para concurso de miss deveria ser 30 anos. Desfilam como gazelas, embora eu nunca tenha visto uma (gazela). Sorriem e nos olham com uns olhos claros. Já notou que elas têm olhos claros? E as que usam uns cabelos longos e ondulados e ficam a todo momento jogando as melenas para trás? É de matar.
O problema com esta faixa de idade é achar uma que não esteja terminando alguma tese ou TCC. E eu pergunto: existe algo mais excitante do que uma médica de 32 anos, toda de branco, com o estetoscópio balançando no decote de seu jaleco diante daqueles hirtos seios? E mulher de 30 guiando jipe? Covardia.
A mulher de 30 ainda não fez plástica. Não precisa. Está com tudo em cima. Ela, ao contrário das de 20, nunca ficou. Quando resolve, vai pra valer. Faz sexo como se fosse a última vez. A mulher de 30 morde, grita, sua como ninguém. Não finge. Mata o homem, tenha ele 20 ou 50. E o hálito, então? É fresco. E os pelinhos nas costas, lá pra baixo, que mais parecem pele de pêssego, como diria o Machado se referindo a Helena, que, infelizmente, nunca chegou aos 30?
Mas o que mais me encanta nas mulheres de 30 é a independência. Moram sozinhas e suas casas têm ainda um frescor das de 20 e a maturidade das de 40. Adoram flores e um cachorrinho pequeno. Curtem janelas abertas. Elas sabem escolher um travesseiro. E amam quem querem, à hora que querem e onde querem. E o mais importante: do jeito que desejam.
São fortes as mulheres de 30. E não têm pressa pra nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam.
Chegam lá atrás, no Balzac: 'A mulher de 30 anos satisfaz tudo'.
Ponto. Pra elas.




POESIA IMAGEM = Fernando Pessoa


VÍDEO = Anthony Ventura


 Japaratinga-AL
 Praia das Fontes-CE
 Praia Redonda-CE
Praia de Icaraí-CE 
Praia do Espelho-BA 
Praia do Cumbuco-CE 
 Praia do Cumbuco-CE
Praia do Cumbuco-CE
Praia de Tambaba-PB 
Praia de Pecém-CE

PENSAMENTOS


“Se queremos que as coisas permaneçam como
estão, as coisas terão de mudar”
Giuseppe di Lampedusa

“Os capitalistas ganham o que gastam e os
trabalhadores gastam o que ganham”
Michael Kalecki

“O velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer”
Antônio Gramsci

“A característica do homem imaturo é aspirar a morrer
nobremente por uma causa, enquanto que a
característica do homem maduro é querer
viver humildemente por uma causa”
Wilhelm Stekel

“As verdades mais profundas têm a poderosa propriedade
de se adaptarem a tudo o que é indistinto e vulgar,
refletindo-se à  sua  maneira até  mesmo na
fantasia de um sonhador irresponsável”
Walter Benjamin

“Toda a história da literatura pode ser vista como
uma sinuosa guirlanda de plágios”
Roberto Galasso

“Debaixo de toda a vida contemporânea encontra-se
latente uma injustiça profunda e irritante: a falsa

suposição da igualdade real entre os homens”
José Ortega y Gasset

"A curiosidade é a insubordinação em sua forma mais pura"
Vladimir Nabokov

POESIA

GUERRA JUNQUEIRO
PORTUGAL  =  1850-1923

Canção De Batalha


Que durmam, muito embora, os pálidos amantes,
Que andaram contemplando a Lua branca e fria...
Levantai-vos, heróis, e despertai, gigantes!
Já canta pelo azul sereno a cotovia
E já rasga o arado as terras fumegantes...

Entra-nos pelo peito em borbotões joviais
Este sangue de luz que a madrugada entorna!
Poetas, que somos nós? Ferreiros d'arsenais;
E bater, é bater com alma na bigorna
As estrofes de bronze, as lanças e os punhais.

Acendei a fornalha enorme — a Inspiração.
Dai-lhe lenha — A Verdade, a Justiça, o Direito —
E harmonia e pureza, e febre, e indignação;
E p'ra que a labareda irrompa, abri o peito
E atirai ao braseiro, ardendo, o coração!


Há-de-nos devorar, talvez, o incêndio; embora!
O poeta é como o Sol: o fogo que ele encerra
É quem espalha a luz nessa amplidão sonora...
Queimemo-nos a nós, iluminando a Terra!
Somos lava, e a lava é quem produz a aurora!


CONTO

LUIS FERNANDO VERISSIMO
PORTO ALEGRE-RS  =  1936

Racismo


- Escuta aqui, ó criolo...
- O que foi?
- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.
- E não existe?
- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca...
É, não adianta. Negro quando não faz na entrada...
- Mas aqui existe racismo.
- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia... E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.
Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!
- Eu insisto, aqui tem racismo.
- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?
- Não, mas...
- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?
- Eu sei, mas...
- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.
- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.
- Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.
- Mas isso é racismo.
- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.
- Sim, mas...
- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.
- Pois é, mas...
- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.
- Pois então. O ...
- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.
- Mas...
- E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.
- É, mas...
- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.
- Sim, mas...
- E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.


POESIA IMAGEM = António Gedeão



HENRYK SEMIRADSKY = Ucrânia, 1843-1902
HENRYK SEMIRADSKY
 HENRYK SEMIRADSKY
 HENRYK SEMIRADSKY 
 HENRYK SEMIRADSKY
HENRYK SEMIRADSKY 
 HENRYK SEMIRADSKY
HENRYK SEMIRADSKY = Ucrânia, 1843-1902