sábado, 12 de abril de 2014

VÍDEO = Enrico Toselli


PENSAMENTOS



PRAIAS DO NORDESTE

 
Praia de Ypioca-AL 
Japaratinga-AL 
 Japaratinga-AL
Praia de Maracaípe-PE
 Maragogi-AL
Praia de  Muro Alto-PE
Praia de  Paripueira-AL
 São Miguel dos Milagres-AL
 Praia de Tambaba-PB
 Praia do Gunga-AL
 Praia do Gunga-AL
 Praia do Morro-AL
 Praia do Toque-AL
Praia do Francês-AL

VÍDEO = Acker Bilk


FRIEDRICH ENGELES


POESIA


FERNANDO PESSOA
PORTUGAL  =  1888-1935

 
O Cego E A Guitarra 

 

O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo: cada coisa é sua
Oiço: cada som é consigo.
 

Sou como a praia a que invade
Um mar que torna a descer.
Ah, nisto tudo a verdade
É só eu ter que morrer.
 

Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada
Ao meu conceito perdido
Como uma flor na estrada.

 Cheguei à janela
Porque ouvi cantar.
É um cego e a guitarra
Que estão a chorar.
 

Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo
A fazer ter dó.
 

Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.

 

CRÔNICA


JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS
RIO DE JANEIRO-RJ  =  1951

 
Os Faltares

 

Pisaram no pé dele, e o homem do metrô sente falta dos xerifes nacionais.
Alguém deve ter pisado no pé dele, e foi o gancho para o homem no vagão do metrô começar seu discurso dizendo que por isso o Brasil não ia pra frente.
Falta um Figueiredo, que prende e arrebenta, gritou. Faltava educação, faltava compostura e, vou dizer mais, reiterava o homem do metrô como se em algum momento fosse puxar do santinho para se apresentar em campanha, falta tirocínio e, apontando para a cabeça, falta maxilar. Era um homem dos seus 50 e poucos, de sotaque nordestino e muita indignação por terem pisado seu pé sem pedido de desculpas.
Faltava um Clodovil, mais macho que muitos aí, para dar modos aos cidadãos.
Falta um David Nasser pra por na cadeia os pedófilos da mesma maneira que ele fez com os matadores da Aída Curi. Falta um Rui Barbosa, baiano cabra da peste que colocou na porta de casa em Londres uma tabuleta com o aviso "ensina-se inglês aos ingleses". Aquilo, sim, era autoridade intelectual, vibrava o homem no metrô que tinha tido o calo pisado por alguém e a partir dessa dor faz um exercício de sociologia nostálgica sobre o abandono do brasileiro. Falta o Felipão para entrar duro e dizer aqui não, alemão. Fica esse pessoal da Fifa vindo aqui ensinar como se faz futebol e pororó pão duro e coisa e tal, como se o brasileiro matasse estrangeiro no metrô. Faça-me o favor. Falta alguém que diga comigo não, violão, e mande essa turma pentear macaco, tirar os mineiros lá do fundo da terra, como se a gente é que matasse o Michael Jackson com os psicorotrópicos. Falta tutano, ó, óleo de babosa, e novamente o homem do metrô apontava para a cabeça de cabeleira farta.
O homem do metrô tinha uma lista enorme de faltares nacionais e a Linha Um seria pequena para ele relacionar todos. Faltava elegância, um chapéu na cabeça para quem lhe pisara os pés tirar e dizer, desculpe, moço, foi sem querer, e faltava também o Newton Cruz, aquele general maluco que saiu dando com o cassetete nos carros enquanto gritava "está preso, está preso". Falta a vassoura do Jânio pra varrer os corruptos. A culpa é do povo que vota mal e matou Carlos Lacerda com os mendigos do Guandu, continuou o homem do metrô, e nada lhe era obstado. Dizia o que bem queria, tumultuando os fatos e personagens da História com a mesma naturalidade que passavam as estações.
Ninguém sabe mais por que o Largo do Machado tem esse nome, afirmava, fazendo pausa para alguém se apresentar com uma resposta, mas os outros passageiros fingiam não ouvir o homem que soltava o verbo, trancado num vagão do metrô. Todo mundo acha que é por causa do Machado de Assis, mas ele morava lá em cima no Cosme Velho, não tem nada a ver. O Machado do largo não era com letra maiúscula, era um machado mesmo que tinha em cima de um açougue, quatro séculos antes do Assis ter nascido. Pergunta se algum candidato a vereador sabe disso, tentava mais uma vez o homem do metrô provocar a interação com as outras pessoas. Como ninguém se mexia, ele voltou a prantear as faltas no panteão nacional, gente como o policial Mariel Mariscott, o becão Moisés e a jurada Araci de Almeida, personagens que, segundo ele, matavam, entravam de sola e diziam as verdades, atitudes que dariam um jeito nesse estado de coisas frouxo que está por aí. Falta a mão pesada do Ted Boy Marino nos cornos dessa bandidagem.
Lembro dele ter falado da falta que fazia o Haroldo de Andrade e das lições do apresentador toda manhã no seu Debates Populares pela Rádio Globo. Falta taquicardia, ele foi em frente, ali pela estação Cinelândia, falta alguém para sentir o pulso do que quer a população.
Falta um Pedro de Lara pra dizer na lata o que acha do calouro e mandar, meu filho, vai cantar em outra freguesia. As autoridades constituídas não respeitam mais nem o sigilo do contribuinte, e entram-e-saem nas contas dos outros da mesma maneira que pisam no pé da gente no metrô e fica por isso mesmo. Falta o delegado Nelson Duarte pra investigar, falta o inspetor Bellot. Os americanos estão saindo do Iraque e vão acabar invadindo isso aqui porque já notaram, falta macho cabra da peste. Ninguém dá um pio pro descalabro geral com o dinheiro público.
Falta um Amaral Neto para se orgulhar do Brasil e mostrar nossas riquezas. Falta trazer o Projeto Rondon de volta, o Mobral, e falta também o Coronel Fontenele pra furar o pneu do safado que estacionar em lugar não permitido.
Falta consideração com a ordem pública, continuou a desabafar o homem do metrô, indicando às vezes a ponta do pé para ilustrar a indignação cívica que lhe subia para a ponta da língua e movia o desabafo.
Isso virou uma terra de ninguém, e sabe de quem foi a culpa? Do Cabral. Ele achou que a Baía de Guanabara era um rio e tacaram lá, Rio de Janeiro. Pau que nasce torto não tem jeito.
Se o Brasil começou errado, vituperava cada vez mais indignado o homem no metrô, tem que acabar errado, que é como tá isso hoje.
Falta um delegado Padilha, que jogava um limão por dentro da calça do malandro e mandava prender se fosse boca estreita, coisa de playboy energúmeno e sem moral. Ele não deixava essas pulseirinhas do sexo, prendia no primeiro capítulo esse tarado da novela, o Gerson.
Falta o Tenório Cavalcanti, falta o Flávio pra quebrar os discos ruins, gente que colocava respeito, e não essa bagunça. Não se investe mais em educação, como fazia o Álvaro Vale, é só ignorância, só carrinho por trás e pisão no pé de quem não machucou ninguém, afirmou o homem do metrô, saltando na estação Praça Onze quando faltavam 15 minutos para o meio-dia da quinta-feira passada.

 

 

SALVADOR ALLENDE


GRANDES PINTORES

 PAUL GAUGUIN = França, 1848-1903
 PAUL GAUGUIN
PAUL GAUGUIN 
 PAUL GAUGUIN
 PAUL GAUGUIN
 PAUL GAUGUIN
 PAUL GAUGUIN
 PAUL GAUGUIN 
 PAUL GAUGUIN
PAUL GAUGUIN = França, 1848-1903

POESIA


EVERARDO NORÕES
CRATO-CE  =  1944

 
Tua Fala

 

Tua fala parecia
uma rede de varandas,
branca,
no meio da sala.

(Uma coisa que envolve
e, ao mesmo tempo, se esquiva):
gesto seco de uma chama,
morrendo,
e sempre mais viva.

Era assim, tua palavra:
escorreita, sem medida.
Falas como pés descalços,
presos à relva macia.
Ou um cheiro de curral
quando a manhã principia.

(Tua fala parecia
a rede, toda bordada,
onde a noite amanhecia).



De A Rua do Padre Inglês (2006)

BERTRAND RUSSELL




HUMOR











CONTO


HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA  =  1886-1934
 

Razão Poderosa

 
 

Não obstante as suas barbas hirsutas, e aquele nariz aquilino, que parecia espiar, curioso, para o abismo da boca dissimulada sob os bigodes, Abraão Salazar não era um homem triste. Na Sinagoga, nas reuniões religiosas, era, mesmo, dos menos soturnos, a ponto de ter sido censurado uma vez, com os olhos, pelo rabino Melchisedec.
Foi, por isso, motivo para estranheza o modo porque aquele honrado descendente de Israel entrou, naquela noite, no pequeno prédio da rua da Alfândega, onde se iam erguer novas preces pela felicidade dos judeus espalhados por todo o mundo. E como ninguém tivesse mais intimidades com ele do que o velho Isaac Labbareff, foi a este que coube o direito de aproximar-se de Abraão, para uma pergunta fraternal.
- Estás doente? - indagou, com os olhos muito pequenos, muito vivos, faiscando entre as sobrancelhas revoltas, como dois diamantes escondidos na relva.
- Não. Uma desgraça.
Os olhos de Isaac refulgiram, ainda mais.
- Deixaram de pagar-te algum empréstimo? - indagou?
- Não - informou, seco, Abraão Salazar.
E cerrando o cenho:
- Imagina tu, que, ao entrar em casa, encontrei o Daniel, Daniel Shakaroff, aos abraços com minha mulher!
- E não o mataste? - indagou, recuando, o velho judeu.
- Não. E é isso que me revolta. Eu não podia matá-lo.
- Não podias? - rugiu o ancião.
- Abraão, os punhos contraídos, os dentes cerrados, na raiva de quem se sentiu manietado:
- Não sabes, então, que ele me deve duzentos mil réis?

 

 

PIADA = Cantando Mal


A mulher do Luiz adorava cantar, mas o problema é que ela cantava mal pra burro. Toda noite, depois da janta, era aquele martírio. Ela começava a cantar e o Luiz saía de fininho para a varanda.
Uma noite ela se manca e, magoada, pergunta ao marido:
— Querido, você não gosta de me ouvir cantar?

Ele responde:

— Querida, eu adoro ouvir a sua voz cantando só para mim!

Ela retruca:

— Então, se você gosta, porque vai sempre para a sacada?
Ele responde:

— Eu só quero ter certeza de que os vizinhos não pensem que eu estou batendo em você!
 
 HENRI MATISSE = França, 1889-1954
 HENRI MATISSE
 HENRI MATISSE
HENRI MATISSE 
 HENRI MATISSE
 HENRI MATISSE
 HENRI MATISSE
 HENRI MATISSE
 HENRI MATISSE
HENRI MATISSE = França, 1889-1954
 

BERTOLT BRECHT