domingo, 21 de janeiro de 2018

POESIA = ARTUR AZEVEDO

Miserável

O noivo, como noivo, é repugnante:
Materialão, estúpido, chorudo,
Arrotando, a propósito de tudo,
O ser comendador e negociante.

Tem viuvinha, a noite interessante,
Todo o arsenal de um poeta guedelhudo:
Alabastro, marfim, coral, veludo,
Azeviche, safira e tutti quanti.

Da misteriosa alcova a porta geme,
O noivo dorme n’um lençol envolto ...
Entra a viuvinha, a noiva... Oh, céu, contem-me!

Ela deita-se... espera... Qual! Revolto,
O leito estala... Ela suspira... freme ...,
E o miserável dorme a sono solto! ...

ARTUR AZEVEDO
SÃO LUÌS-MA  =  1855-1908


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