Cafezinho
Rio, 1939.
Leio a reclamação de um repórter irritado que precisava
falar com um delegado e lhe disseram que o homem havia ido tomar um cafezinho.
Ele esperou longamente, e chegou à conclusão de que o funcionário passou o dia
inteiro tomando café.
Tinha razão o rapaz de ficar zangado. Mas com um pouco de
imaginação e bom humor podemos pensar que uma das delícias do gênio carioca é
exatamente esta frase:
- Ele foi tomar café.
A vida é triste e complicada. Diariamente é preciso falar
com um número excessivo de pessoas. O remédio é ir tomar um
"cafezinho". Para quem espera nervosamente, esse
"cafezinho" é qualquer coisa infinita e torturante. Depois de esperar
duas ou três horas dá vontade de dizer:
- Bem cavaleiro, eu me retiro. Naturalmente o Sr. Bonifácio
morreu afogado no cafezinho.
Ah, sim, mergulhemos de corpo e alma no cafezinho. Sim,
deixemos em todos os lugares este recado simples e vago:
- Ele saiu para tomar um café e disse que volta já.
Quando a Bem-amada vier com seus olhos tristes e perguntar:
- Ele está? - alguém dará o nosso recado sem endereço.
Quando vier o amigo e quando vier o credor, e quando vier o parente, e quando
vier a tristeza, e quando a morte vier, o recado será o mesmo:
- Ele disse que ia tomar um cafezinho...
Podemos, ainda, deixar o chapéu. Devemos até comprar um
chapéu especialmente para deixá-lo. Assim dirão:
- Ele foi tomar um café. Com certeza volta logo. O chapéu
dele está aí...
Ah! fujamos assim, sem drama, sem tristeza, fujamos assim.
A vida é complicada demais. Gastamos muito pensamento, muito sentimento, muita
palavra. O melhor é não estar.
Quando vier a grande hora de nosso destino nós teremos
saído há uns cinco minutos para tomar um café. Vamos, vamos tomar um cafezinho.
R UB E M B R A G A
CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM-ES =
1913-1990
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