segunda-feira, 25 de setembro de 2017

HUMOR = Max Nunes





- A prova de que o balé dá sono na plateia é que os artistas entram sempre na pontinha dos pés.
- Não é que as moças de hoje sejam mais bonitas. É que as de ontem já deixaram de ser.
- Quem pede a palavra nem sempre a devolve em condições.
- No Nordeste, a seca é tão braba que são as árvores que correm atrás dos cachorros.
- O jipe é o maior esforço feito pelo homem para chegar à mula mecanizada.
- O casamento é como a pessoa que quer tomar um copo de leite e compra uma vaca.
- O casamento é o único jogo que acaba mal sem que ninguém ponha a culpa no juiz.
- Os homens casados se dividem em três categorias: os polígamos, os bígamos e os chateados.
- Com as ruas esburacadas desse jeito, é preciso ser muito virtuoso para não dar um mau passo.
- O difícil de confundir alhos com bugalhos é que ninguém sabe o que são bugalhos.
- Duplicata é uma coisa que sempre vence. Nunca empata.
- Houve um tempo no Brasil em que ninguém tinha dinheiro. É hoje!
- Há casais que se detestam tanto que não se separam só pra um não dar esse prazer ao outro.
- O eleitor, obrigatoriamente, tem que ser qualificado. O candidato, não.
- Personalidade é aquilo que uma pessoa tem quando não está precisando do emprego.
- Algumas mulheres são tão feias que deviam processar a natureza por perdas e danos.
- Ah, o que seria do governo se o povo pudesse falar pela boca do estômago!
- A prova de que tudo subiu de preço é que até uma coroa já é cara.
- Uma camisa nova tem sempre um alfinete além daqueles que você já tirou.
- Opinião é uma coisa que a gente dá e, às vezes, apanha.

Coisas do Max Nunes
Freguês:    - Por que esse papagaio é tão caro?
Vendedor: - É uma papagaia. Custa caro porque bota ovo quadrado.
Freguês:    - E ela fala?
Vendedor: - Fala. De vez em quando, diz “ai!”.

Filha: - Mãe, a senhora não disse que a maneira mais fácil da mulher prender um homem é pelo estômago?
Mãe:   - Disse. Por quê?
Filha: - É que descobri um caminho novo.

Enfermeira: - Eu preciso saber o seu nome para avisar à sua família.
Acidentado: - Basta a senhor avisar, porque o meu nome a minha família já sabe.

Curiosidades

 Um cientista de Chicago conseguiu criar vida dentro do laboratório: sua enfermeira está grávida.
 Chamava-se Jesus e, tal como Jesus, morreu na cruz. Na Cruz Vermelha.
 Levou dez anos ensinando uma besta a falar. Quando conseguiu, ele ficou besta.
 Quando a cegonha chegou à casa dos meus vizinhos para entregar a encomenda, o garoto era tão feio que eles ficaram com a cegonha e devolveram o menino.
 Na Califórnia, amamentar em público é considerado um ato obsceno. Principalmente se a mãe estiver acompanhada do marido e sem a criança.
 Novo dispositivo interno para moralizar a Câmara: nenhum deputado poderá sair antes de chegar.


MAX  NUNES
RIO DE JANEIRO-RJ, 1922-2014

HUMOR = Barão de Itararé



Conselho Médico
(Como Devemos Tomar Nossos Remédios)
Barão de Itararé

Quando estamos doentes, afinal não temos outro remédio senão tomar remédio.
O remédio, aliás, sempre faz bem. Ou faz bem ao doente que o toma com muita fé; ou ao droguista que o fabrica com muito carinho; ou ao comerciante que o vende com um pequeno lucro de 300 por cento.
Mas apesar do bem que fazem, devemos convir que há remédios verdadeiramente repugnantes, que provocam engulhos e violentas reações de repulsa do estômago.
Como devemos tomar esses remédios repugnantes? Aí está o problema que procuraremos resolver para orientar os nossos dignos e anêmicos leitores.
O melhor meio de vencer as náuseas, quando temos que ingerir um remédio repelente, consiste em recorrer à lógica dos rodeios, adotando os métodos indiretos, até chegar à auto-sugestão, transformando assim o remédio repugnante numa coisa que seja agradável ao paladar. Numa palavra, devemos tomar o remédio com cerveja, por exemplo.
Como devemos proceder para chegarmos a esse magnífico resultado?
É indispensável comprar, antes do remédio, uma garrafa de cerveja. Depois, é necessário bebê-la devagar, saboreando-a, para sentir-lhe bem o gosto. Liquidada a primeira garrafa, pedimos outra cerveja. Esta   vamos tomá-la de outra forma, também devagar, mas com a idéia posta no remédio, cuja lembrança naturalmente nos provocará asco. Para voltarmos ao normal, encomendamos uma terceira garrafa, com a qual, lembrando-nos sempre do remédio, iremos dominando e vencendo a repugnância. Na altura da quinta ou undécima garrafa, nós já estaremos convencidos de que o gosto do remédio deve ser muito semelhante ao da cerveja e, assim, já poderíamos beber calmamente o remédio como cerveja. Mas, como não temos o remédio no momento e já não temos muita força nas pernas para ir à farmácia, então continuamos a beber a infusão de lúpulo e cevada, até chegarmos a esta notável conclusão: se é possível chegar a se tomar um remédio tão repugnante como cerveja, muito mais lógico será que passemos a tomar cerveja como remédio, porque a ordem dos fatores não altera o produto, quando está convenientemente engarrafado.

Texto extraído do livro "Máximas e Mínimas do Barão de Itararé", Editora Record - Rio de Janeiro, 1986, pág. 33, uma coletânea organizada por Afonso Félix de Sousa.
Saiba sobre o autor e sua obra visitando “Biografias”.



A Arte e a Vida

Este que vive em truculento e rude
Prélio de intrigas que a ambição ateia,
Envolve em rispidez cada atitude,
Sai-lhe, de fel, cada palavra, cheia.

Não vê que na bondade está a virtude
De dar graça e beleza à vida feia,
Como um raio de sol doira o palude,
Põe rebrilhos de jóia em grãos de areia.

Dor de sobra há no mundo que nos doa;
E quantas formas de expressão tem ela,
Da mão que fere à voz que amaldiçoa!

Mas no artista a bondade se revela;
Se não lhe é dado a vida fazer boa,
Atenua-lhe o mal, tornando-a bela.
                                                                          
BASTOS TIGRE
RECIFE-PE, 1882-1957

CONTO = Humberto de Campos



A Violência



Testa franzida, fisionomia austera, palavras medidas, o delegado do Distrito inquiria, procurando a verdade, a vítima do delito. Roupa humilde, meias brancas de algodão, sapatos pretos e baratos, os olhos baixos, Maria Odete não fazia senão chorar. Para não demorar, porém, o inquérito, Dona Eufrásia, mãe da menina, ia prestando os esclarecimentos:
- Eu tenho uma pensão na Saúde, "seu" doutor. Dou comida e moradia a onze hóspedes, no meio dos quais aquele amaldiçoado. Quem me ajudava era, esta filha. Pois bem: uma noite, a menina estava deitada, dormindo, coitadinha! E o desgraçado, o João Isidoro, abusou dela!
- Foi exato, rapariga? - indagou a autoridade.
- Foi, sim... senhor! - soluçou a pequena, o lenço nos olhos.
- Você estava deitada?
- Sim, se... nhor!...
- Dormindo?
- Sim, se... nhor!... - gemeu a menina, afogada em soluços.
Letra larga, mergulhando a pena com estrondo no tinteiro, o escrivão tomava notas rápidas do depoimento. E foi quando o delegado, para que nada faltasse, inquiriu, ainda:
- E onde estava você dormindo?
- Eu?
- Sim.
E a rapariga, enxugando, com força, os olhos muito vermelhos:
- Na cama dele, sim, senhor!

HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA  =  1886 / 1934