sábado, 15 de junho de 2013

POESIA


JOÃO DE DEUS
PORTUGAL  =  1830-1896


O Dinheiro

 
 
O dinheiro é tão bonito,
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça o maldito,
Tem tanto chiste o ladrão!
O falar, fala de um  modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
Tlim!
Papo.

 
E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
É só dizer-lhe: - Aí vai...
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto
Tlim!
Pronta.
 

Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora!
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
Tlim!
Ora... 
 

Aquela fisionomia
E lábia que demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
“Conhece este amigo antigo?
-  Oh meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não!

 

 

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