ANTÓNIO
GEDEÃO
PORTUGAL =
1906-1997
Poema Da
Terra Adubada
Por detrás
das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão.
As árvores
são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.
São boas e largas para esconder soldados.
Não é o vento
que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.
O brilho
súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.
As rubras
flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.
Não são
vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.
Depois os
lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.
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