sexta-feira, 9 de novembro de 2012

POESIA = António Gedeão




ANTÓNIO GEDEÃO

PORTUGAL  =  1906-1997

 
 
 
 
Poema Da Terra Adubada





 

Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão. 


As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados. 


Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão. 


O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes. 


As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão. 

Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar. 

Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.


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