sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CRÔNICA = Mário Prata


MÁRIO  PRATA
UBERABA-MG  =  1946

 
OS CONTADORES DE PIADA

 

Você já percebeu que dá para você sacar uma pessoa só pelo jeito que ela conta uma piada? Pelo jeito e pelo nível da piada? Às vezes, a gente acabou de conhecer uma pessoa e ela conta uma piada. Aquilo pode ser definitivo nas nossas relações futuras. Eu estava começando a gostar dela, mas a piada... Impossível qualquer intimidade.
Sim, minha amiga, contar piada exige profundas técnicas. Poucos têm o dom. Poucos percebem o tom certo. O momento exato, o local adequado para a piada. O bom contador de piadas é um artista. Fico fã, fascinado.
Existem vários tipos de contadores de piadas, além dos políticos em geral e dos governantes em particular.
Tem aquele que esquece a piada. Está já no meio, a gente, ali, interessado, dá um branco no cara, fica todo mundo olhando para ele: esqueci o fim... Pode?
E o desastrado que, ao te perguntar se conhece tal piada, conta o fim? E tem uns que, além disso, não percebem e contam a piada assim mesmo, até o já narrado final.
Chato mesmo é aquele que vai contar a piada e ri antes. Mas ri para valer. Em volta dele a rodinha olhando, esperando. Esse mesmo sujeito, que ri dele mesmo, é bem provável que, depois de conter o riso, venha a rir novamente algumas vezes durante a narrativa.
É mesmo desagradável quando o sujeito começa a contar uma que você conhece e você tem certeza que contada por você seria muito melhor. Nesses casos, quase sempre, quem conta a piada conhecida estica, estica...
E aquele contador compulsivo que, quando um acaba a piada ele não deixa ninguém rir gostoso porque logo manda a sua? É como se ele nem tivesse ouvido a anterior. Ficou ali, naquela agonia, esperando o outro acabar. E você pode ter certeza que a piada do primeiro era muito melhor e a gente teve que engolir o riso.
Eu não sei o porquê, mas tem pessoas que só contam piada velha. Já percebeu? Mas velha mesmo. Coisa do meu tempo de ginásio.
Ah, os especialistas. Tem especialistas só em piadas de judeus. Em sua maioria são judeus mesmo. A turma das piadas de português. Se levam a sério e os personagens, até hoje, se chamam Joaquim, Manuel e Maria. Mau gosto daquela turma que só conta piadas racistas. O pior é que, geralmente, são muito boas.
Me diz: existe coisa pior do que um prolixo contando piada? Meu Deus, aquilo não acaba nunca. Tem gente que faz até rodapé nas piadas. Rodapé é o fim!
E os pudicos que tiram os palavrões quando há senhoras presentes? Até que uma das presentes conte uma piada das mais cabeludas. Um parêntese: por que será que a piada forte se chama cabeluda? Será que tem algo a ver com os pubianos?
Tem aquelas mulheres que pedem para o marido contar aquela que o Freitas contou outro dia lá no jantar da casa da Dolores, lembra benhê? Aliás, nunca descobri por que pedem para o maridão contar, pois, quase sempre, o maridão conta muito mal.
Nada mais pretensioso do que aquele que conta e, ao acabar, pergunta: entendeu? Não dá vontade de dar uma porrada no cidadão? E a piada era simplérrima.
Não resisto e vou contar uma:
O sujeito foi ao médico amigo dele, com o saco inchado. O médico disse que era uma inflamação no testículo esquerdo, que não era nada grave etc., mas que ele procurasse um especialista. E deu o cartão de um colega urologista. Mas, na hora, errou o cartão e deu um de um advogado.
O cara marcou hora e estava lá diante do advogado, achando que era médico:
– Em que posso ajudar?
O nosso amigo abaixou as calças e mostrou.
– Como o senhor está vendo, doutor, estou com uma inflamação no testículo esquerdo.
O advogado ficou olhando a cena sem entender absolutamente nada. Pensou, pensou e disse:
– Meu amigo, a minha especialidade é o Direito.
E o sujeito:
– Vai ser especialista assim lá na puta que o pariu!!!
Mas a piada da semana fica com os 18 deputados federais que votaram a favor do Naya. São contra a cassação e a caçação. O voto, é uma piada, foi secreto.

 

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