sábado, 24 de novembro de 2012
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO = Segurança
LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
PORTO ALEGRE-RS = 1936
Segurança
O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua
segurança.
Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds,
as piscinas, mas havia, acima de tudo, segurança.
Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.
Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.
Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam
os muros e assaltavam as casas.
Os condôminos decidiram colocar torres com guardas
ao longo do muro alto.
Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais
rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a
usar crachá.
Os proprietários e seus familiares também. Não
passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem
os bebês.
Mas os assaltos continuaram.
Decidiram eletrificar os muros.
Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O
mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do
muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão
de guardas com ordens de atirar para matar.
Mas os assaltos continuaram.
Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito.
Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as
patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro
do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas.
Todas as janelas foram engradadas.
Mas os assaltos continuaram.
Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de
casa o mínimo possível.
Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no
banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua
nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados.
Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle das
saídas.
Para sair, só com um exame demorado do crachá e com
autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno.
Mas os assaltos continuaram.
Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira
cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se
para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema.
Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém.
Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e
por curtos períodos.
E ninguém pode sair.
Agora, a segurança é completa.
Não tem havido mais assaltos.
Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os
ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de
ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades da sua casa,
olhando melancolicamente para a rua.
Mas surgiu outro problema.
As tentativas de fuga. E há motins constantes de
condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade.
A guarda tem sido obrigada a agir com energia.
PIADA = O Dinheiro de São Benedito
O
Dinheiro de São Benedito
O bêbado vai à igreja e surrupia uma nota de cinco Reais de
uma bandeja em frente a uma imagem de São Benedito.
- Empresta aí, negão! Depois te pago!
E sai em direção ao boteco quando um guarda, que tinha visto o
episódio, bate em suas costas.
- Escuta, meu chapa, vá devolver o dinheiro do santo senão te
boto em cana.
O bêbado entra de novo da igreja, deposita o dinheiro no lugar
onde estava e reclama:
- Pô, negão! Qualé a tua? Eu falei que ia devolver, não
precisava dar parte na polícia!
POESIA = Mário Quntana
MARIO QUINTANA
ALEGRETE-RS =
1906-1994
Este Quarto
Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...
que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousando em mim.
A morte deveria ser assim:
Um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim.
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...
que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousando em mim.
A morte deveria ser assim:
Um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim.
CONTO = Artur Azevedo
ARTUR AZEVEDO
SÃO LUÍS-MA = 1855-1908
Um Ingrato
Vieira havia levado a vida inteira remando contra a
maré. Por fim conseguiu reunir algum dinheiro, não se sabe como, e abriu uma
modestíssima loja de cigarros na Rua dos Ourives. Dava para viver, mas, como se
sabe, não se precisa de muita coisa para viver. Morava com a mulher num
quartinho ao lado da modesta loja, e Dona Maricota cozinhava, lavava e passava
a roupa do marido e de alguns conhecidos, pois não tinham filhos.
Pensando na vida e esperando os clientes, Vieira
estava certo dia encostado no balcão da loja enquanto a mulher preparava o
almoço, como de costume, quando entrou apressadamente um velho, meio
congestionado, quase sem poder falar. Sentou-se num banquinho que ali havia,
queixando-se silenciosamente e apenas murmurando algumas palavras. O traje do
recém-chegado indicava pessoa de boa posição social. Solícito, Vieira indagou:
— Que tem o senhor, cavalheiro? O que aconteceu?
O velho levantou os olhos e só conseguiu dizer, com
voz apagada:
— Água!
Vieira foi imediatamente buscar um copo d’água, que
o velho bebeu, reanimando-se um pouco. E perguntou de novo:
— O que aconteceu?
— O que aconteceu?
— Não sei... Uma coisa que me deu de repente... Mas
felizmente não foi nada, como o Sr. pode ver. Bastou esse copo d’água para
sentir-me bem.
— Não quer alguma outra coisa? Talvez um pouco de
água com limão...
— Não, nada. Muito obrigado.
O velho permaneceu ainda ali uns vinte minutos,
conversando amistosamente com Vieira, perguntando-lhe sobre seus negócios, sua
família, sua vida. Quando saiu, apertou-lhe com vigor a mão, renovando seus
agradecimentos.
Dois dias depois apareceu novamente, sentou-se no banquinho e fez novas demonstrações de agradecimento, conversando amigavelmente durante meia hora.
Dois dias depois apareceu novamente, sentou-se no banquinho e fez novas demonstrações de agradecimento, conversando amigavelmente durante meia hora.
Voltou no dia seguinte, e Vieira lhe apresentou
Dona Maricota, com quem simpatizou bastante. Inteiraram-se então de que o
assíduo visitante era o Comendador Matos, negociante aposentado, solteiro e sem
filhos, que vivia de rendas, sem outra ocupação além da cobrança dos aluguéis e
da renda dos altos negócios. Quando o Comendador saiu, Vieira disse à esposa:
— Parece que esse sujeito está disposto a vir aqui
todos os dias, para entreter-se em conversa.
— É uma amizade que não devemos desprezar —
respondeu a mulher, de espírito prático.
— Por quê?
— Que pergunta! Pode ser que encontremos nesse
homem um protetor...
— Que protetor coisíssima nenhuma! Um passatempo
aborrecidíssimo, é o que você deve dizer. Não percebeu que ele nem sequer fuma?
Não comprou até agora nem uma caixa de fósforos...
Entretanto, quando o Comendador voltou no dia
seguinte, encontrou uma cadeira, no lugar do banquinho.
Precisamente nesse dia ficaram estabelecidas
definitivamente as relações de amizade. A partir desse momento o velho foi
infalível, sempre chegava na mesma hora. Não se passou muito tempo, e começou a
ser-lhe oferecida durante a visita uma xícara de café, que se tornou um hábito
durante os seguintes cinco anos.
Quando não aparecia na hora de costume, Dona
Maricota se inquietava:
— O Comendador não veio. Estará doente? Por que não
vais à casa dele? Pode ser que esteja doente, não acha?
Afinal o velho entrava, e Vieira avisava à mulher:
Afinal o velho entrava, e Vieira avisava à mulher:
— Já está aqui o Comendador, Maricota. Traga já o
cafezinho...
As relações chegaram a ser tão estreitas, que uma
vez Vieira queixou-se da falta de freguesia. O velho lhe disse:
— É natural, pois você tem uma casa que não inspira confiança. Isto aqui não é uma verdadeira loja, é apenas um cubículo.
— Mas muitos começaram como eu, e acabaram ficando ricos.
— É natural, pois você tem uma casa que não inspira confiança. Isto aqui não é uma verdadeira loja, é apenas um cubículo.
— Mas muitos começaram como eu, e acabaram ficando ricos.
— Isso foi antigamente. Hoje em dia as lojas de
cigarros têm que estar bem instaladas, com pelo menos duas portas, boas
estantes, tudo bem ordenado e bem sortido.
— É bem verdade, mas tudo isso custa dinheiro, e
não vejo como possa consegui-lo.
— Não se preocupe por questões de dinheiro. Procure
uma casa melhor, em pleno centro, e deixe o resto por minha conta.
Com efeito, Vieira não demorou a encontrar um local apropriado. Alugou-o, tendo o próprio Comendador como fiador. Um mês depois o novo estabelecimento estava funcionando. Não faltava nada, havia até um acendedor de cigarros constantemente ligado, que os clientes podiam usar.
Com efeito, Vieira não demorou a encontrar um local apropriado. Alugou-o, tendo o próprio Comendador como fiador. Um mês depois o novo estabelecimento estava funcionando. Não faltava nada, havia até um acendedor de cigarros constantemente ligado, que os clientes podiam usar.
O casal mudou-se para o segundo andar do mesmo
imóvel, e o Comendador emprestou o dinheiro para a compra dos móveis. Quando
foi assinar os papéis, Vieira perguntou se o Comendador tinha interesse em ser
seu sócio.
— Nada disso! Eu me aposentei por completo dos negócios, e não tenho o menor desejo de voltar a eles. Serei simplesmente seu credor. Basta você assinar umas quinze promissórias, com juros muito reduzidos e prazos folgados.
Assim foi. Vieira resgatou as letras uma por uma, nos prazos estipulados. Sem esforço, pois a loja prosperava de maneira satisfatória. Dona Maricota já se entregava aos afazeres domésticos com mais parcimônia. Um dia notou que ia ser mãe, portanto uma nova felicidade em perspectiva.
— Nada disso! Eu me aposentei por completo dos negócios, e não tenho o menor desejo de voltar a eles. Serei simplesmente seu credor. Basta você assinar umas quinze promissórias, com juros muito reduzidos e prazos folgados.
Assim foi. Vieira resgatou as letras uma por uma, nos prazos estipulados. Sem esforço, pois a loja prosperava de maneira satisfatória. Dona Maricota já se entregava aos afazeres domésticos com mais parcimônia. Um dia notou que ia ser mãe, portanto uma nova felicidade em perspectiva.
— Quero ser o padrinho! — indicou o Comendador
quando foi informado.
O excelente homem já era considerado pessoa da
casa, seguindo sempre o seu próprio ritmo, tomando o cafezinho sentado no mesmo
local, já agora numa cadeira estofada, para mais comodidade.
A pontualidade com que foram pagas as quinze
promissórias fez aumentar a amizade do velho, pois colocava acima de tudo a
probidade comercial, a honra da firma. Quando o menino foi batizado, o padrinho
deu-lhe um bonito enxoval e fez para ele um seguro de vida. Desde então era
raro a criança não receber todos os dias um presente ou um agrado. De vez em
quando, Vieira e Maricota também eram obsequiados.
— Comendador, por que tantos cuidados? O senhor não
deve incomodar-se tanto conosco.
— Não me incomodo, absolutamente. Vocês são minha
única família. Não tenho ninguém mais no mundo, a não ser vocês.
— Bendito aquele copo de água! — dizia Dona Maricota, sempre que o velho tinha algum rasgo de generosidade.
— Graças àquele copo d’água mudou nossa sorte — acentuava o marido, — e espero que com o tempo ainda viremos a ser ricos.
— Bendito aquele copo de água! — dizia Dona Maricota, sempre que o velho tinha algum rasgo de generosidade.
— Graças àquele copo d’água mudou nossa sorte — acentuava o marido, — e espero que com o tempo ainda viremos a ser ricos.
Não sabendo como manifestar seu reconhecimento por
tão inverossímil proteção, Vieira mandou pintar a óleo um retrato do Comendador,
que colocou na sala de visitas.
Mas tudo se acaba. Um dia o comendador deixou de
aparecer na loja, que tão assiduamente visitava durante tantos anos. Vieira
correu imediatamente à casa onde morava, e o encontrou seriamente doente. Quis
levá-lo para sua casa, onde seria tratado com desvelo familiar, mas o
comendador resistiu. Era seu propósito recolher-se a um asilo para idosos, e
foi necessário respeitá-lo. A doença se agravou. Embora não lhe faltasse nenhum
dos recursos da medicina, morreu depois de quinze dias.
Vieira e Dona Maricota imaginavam — era natural —
que ambos e o pimpolho seriam os únicos herdeiros, já que o velho não tinha
família. Enganaram-se. O testamento, o único que apareceu entre os papéis do
velho, e que foi divulgado depois do enterro, só contemplava no benefício o
afilhado, com dez contos de réis. O resto era dividido entre hospitais e
asilos. Nem o próprio Vieira tinha um único centavo no testamento.
— Estranho! — bramiu Dona Maricota. — Nunca
imaginei que aquele homem não nos deixasse ricos. Por que nos dizia então que
éramos os únicos membros de sua família? Que mal empregados os oitenta mil réis
da coroa que lhe mandamos!
— Tenho intenção de não aceitar os dez contos que deixou ao nosso filho — confessou Vieira —. Dez contos! Que miséria!
— Seria melhor não haver deixado nada! Nosso filho não precisa de esmolas!
— Tenho intenção de não aceitar os dez contos que deixou ao nosso filho — confessou Vieira —. Dez contos! Que miséria!
— Seria melhor não haver deixado nada! Nosso filho não precisa de esmolas!
— Tenho até vontade de destruir o retrato — disse
indignado o marido.
— Não! Não vale a pena. Esse retrato pode ser
comprado por alguma das instituições que herdarão o dinheiro desse velho
tacanho.
Lançou um olhar severo sobre o retrato do
Comendador, que sorria compassivamente, enquanto exclamava decepcionada:
— Este mundo está cheio de ingratos!...
— Este mundo está cheio de ingratos!...
(Artur Azevedo, in R. Menéndez Pidal, Antología de cuentos – Labor, Barcelona)
STANISLAW PONTE PRETA = Paraíba
STANISLAW
PONTE PRETA
Paraíba
Azevedo e
Peçanha vestiram o paletó e desceram para a rua, na disposição de fazer uma
farrinha. Ainda no elevador, Azevedo fez ver a Peçanha que o laço de sua
gravata estava um pouco frouxo. Peçanha agradeceu e ajeitou o laço.
Afinal, iam em demanda de uma aventura amorosa e a elegância era detalhe
importante.
Caminharam
pela Avenida N. S. de Copacabana e foram subindo em direção ao Lido,
conversando animadamente e só interrompiam a conversa quando passava uma moça.
Sozinha ou acompanhada, todas as moças que passavam por Azevedo e Peçanha
ganhavam olhares pidões, tão comuns aos conquistadores baratos, de beira de
calçada.
Era sábado, dia em que se definem os que andam pela aí, caçando o amor. Azevedo parou na esquina do Lido e perguntou para Peçanha:
Era sábado, dia em que se definem os que andam pela aí, caçando o amor. Azevedo parou na esquina do Lido e perguntou para Peçanha:
- Que tal
se nós fôssemos até o “Alfredão”?
Peçanha
achou que lá havia sempre muita concorrência. As mulheres supostamente fáceis,
quando há muita gente em volta, dando em cima, tornam-se superiores e esquivas,
fazendo-se mais preciosas pela disputa de seus carinhos. Mas como Azevedo
ponderasse que muito dos homens que vão ao “Alfredão” não chegam a ser
propriamente homens. Peçanha concordou.
Entraram no bar, Azevedo acendeu um charuto, ofereceu outro a Peçanha, que recusou com um gesto másculo. Preferia cachimbo, que tirou do bolso e começou a encher de fumo, enquanto pediam algo para beber. O garçom acabou partindo para ir buscar uísque puro, só com gelo e olhe lá.
Entraram no bar, Azevedo acendeu um charuto, ofereceu outro a Peçanha, que recusou com um gesto másculo. Preferia cachimbo, que tirou do bolso e começou a encher de fumo, enquanto pediam algo para beber. O garçom acabou partindo para ir buscar uísque puro, só com gelo e olhe lá.
Uma garota
de olheiras profundas passou pela mesa e Peçanha mexeu com ela. A garota
sorriu. Então Azevedo convidou-a para tomar alguma coisa. E como as
demais pequenas que estavam no bar pareciam todas acompanhadas, ficou só aquela
para ser dividida entre Azevedo e Peçanha.
No fim de
algum tempo, tanto Peçanha como Azevedo estavam caindo de tanta bebida.
Pagaram a conta. Azevedo apagou o resto do charuto no cinzeiro e quis
partir só, rebocando a pequena. Peçanha estranhou a atitude de Azevedo,
acabaram discutindo e começou o clássico festival de bolacha. Entrou a
turma do deixa-disso, veio o guarda e o resultado da farra ali estava: além da
garota disputada a tapa, também foram parar no xadrez as duas brigonas.
Sim,
porque o nome todo de Azevedo é Maria Tereza Azevedo. Quanto a Peçanha:
Walquíria. Walquíria Peçanha.
POESIA = Sophia De Mello Breyner Andresen
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
PORTUGAL
= 1919-1004
Esta Gente
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo
FERNANDO SABINO = Hora De Dormir
FERNANDO SABINO
BELO HORIZONTE-MG
= 1923-2004
Hora De Dormir
- Por que não posso ficar vendo
televisão?
- Porque
você tem de dormir.
- Por quê?
- Porque está na hora, ora essa.
- Hora essa?
- Além do mais, isso não é
programa para menino.
- Por quê?
- Porque é assunto de gente
grande, que você não entende.
- Estou entendendo tudo.
- Mas não serve para você. É
impróprio.
- Vai ter mulher pelada?
- Que bobagem é essa? Ande, vá
dormir que você tem colégio amanhã cedo.
- Todo dia eu tenho.
- Está bem, todo dia você tem.
Agora desligue isso e vá dormir.
- Espera um pouquinho.
- Não espero não.
- Você vai ficar aí vendo e eu
não vou.
- Fico vendo não, pode desligar.
Tenho horror de televisão. Vamos, obedeça a seu pai.
- Os outros meninos todos dormem
tarde, só eu que durmo cedo.
- Não tenho nada que ver com os
outros meninos: tenho que ver com meu filho. Já para a cama.
- Também eu vou para a cama e não
durmo, pronto. Fico acordado a noite toda.
- Não comece com coisa não, que
eu perco a paciência.
- Pode perder.
- Deixe de ser malcriado.
- Você mesmo que me criou.
- O quê? Isso é maneira de falar
com seu pai?
- Falo como quiser, pronto.
- Não fique respondendo não: cale
essa boca.
- Não calo. A boca é minha.
- Olha que eu ponho de castigo.
- Pode pôr.
- Venha cá! Se der mais um pio,
vai levar umas palmadas.
- Quem é que anda lhe ensinando
esses modos? Você está ficando é muito insolente.
- Ficando o quê?
- Atrevido, malcriado. Eu com sua
idade já sabia obedecer. Quando é que eu teria coragem de responder a meu pai
como você faz. Ele me descia o braço, não tinha conversa. Eu porque sou muito
mole, você fica abusando .. . Quando ele falava está na hora de dormir, estava
na hora de dormir.
- Naquele tempo não tinha
televisão.
- Mas tinha outras coisas.
- Que outras coisas?
- Ora, deixe de conversa. Vamos
desligar esse negócio. Pronto, acabou-se. Agora é tratar de dormir.
- Chato.
- Como? Repete, para você ver o
que acontece.
- Chato.
- Tome, para você aprender. E
amanhã fica de castigo, está ouvindo? Para aprender a ter respeito a seu pai.
- E não adianta ficar aí chorando
feito bobo. Venha cá.
- Amanhã eu não vou ao colégio.
- Vai sim senhor. E não adianta
ficar fazendo essa carinha, não pense que me comove. Anda, venha cá.
- Você me bateu...
- Bati porque você mereceu. Já
acabou, pare de chorar. Foi de leve, não doeu nem nada. Peça perdão a seu pai e
vá dormir.
- Por que você é assim, meu
filho? Só para me aborrecer. Sou tão bom para você, você não reconhece. Faço
tudo que você me pede, os maiores sacrifícios. Todo dia trago para você uma
coisa da rua. Trabalho o dia todo por sua causa mesmo, e quando chego em casa
para descansar um pouco, você vem com essas coisas. Então é assim que se faz?
- Então você não tem pena de seu
pai? Vamos! Tome a bênção e vá dormir.
- Papai.
- Que é?
- Me desculpe.
- Está desculpado. Deus o
abençoe. Agora vai.
- Por que não posso ficar vendo
televisão?
PIADAS DIVERSAS
Um caracol ia atravessando a estrada e foi atropelado por uma
tartaruga.
Quando acordou nas urgências do hospital perguntaram-lhe o que
é que lhe tinha acontecido:
-Como é que quer que eu saiba?!?!? Foi tudo tão depressa!!!!!
- Ontem, matei dez coelhos e dez perdizes.
- Eu tive melhor sorte. Matei vinte coelhos e vinte perdizes.
- Também és caçador?
- Não. Também sou mentiroso.
Após meses de espectativas e de muitos planos um homem, que por acaso se chamava Zé conseguiu sequestrar a filha de um empresário riquíssimo. A família da menina estava já preocupadíssima pois o sequestrador, dois dias depois do sequestro ainda não havia entrado em contato com a família da vítima.
Foi quando receberam um pacote contendo uma mão "decapitada" dentro e o seguinte aviso do sequestrador, para provar que não estava para brincadeiras:
- "Esta é a minha mão, a próxima é a da sua filha".
Dizia um chefe da pior espécie para um subordinado:
- Aposto em como gostarias de me ver morto, só para teres o
prazer de cuspires na minha sepultura!
- Isso não. Nunca gostei de me meter em filas.
Um bêbado ao contemplar o cadáver de um afogado diz:
- Vejam ao que conduz o abuso da água!!
Dizia ele para ela:
- Eras capaz de casar com um imbecil rico?
- É só por curiosidade ou estás a lançar a tua candidatura?
O hóspede ao se registar numa pensão:
- A sra. pode não acreditar, mas na última pensão onde estive,
a dona da pensão até chorou quando de lá saí.
- Acredito, acredito, mas aqui isso não vai acontecer, porque
o pagamento é adiantado.
Num avião seguiam, um Padre, um Advogado e um Escuteiro. O
avião entra em queda e é necessário abandonar o avião. O piloto sai do cokpit e
diz:
- Temos de saltar, mas só há três paraquedas. Um tem que ficar
atrás. Eu tenho de ir para contar o que aconteceu.
Dito isto pega num paraquedas e salta. O advogado diz:
- Eu tenho de ir defender aquele homem, logo tenho de me
salvar também.
E pega num paraquedas e salta. O Padre vira-se para o escuteiro.
E pega num paraquedas e salta. O Padre vira-se para o escuteiro.
- Meu filho, tu és novo salva-te tu.
- Ó sr. Padre, não se preocupe, o advogado saltou com a minha
mochila.
Entre maridos:
Entre maridos:
- Há algo mais desagradável do que uma mulher que sabe
cozinhar e não quer cozinhar?
- Há sim! A minha mulher por exemplo: não sabe cozinhar e insiste em cozinhar
Três europeus säo capturados por uma tribo de canibais, que concede a cada
- Há sim! A minha mulher por exemplo: não sabe cozinhar e insiste em cozinhar
Três europeus säo capturados por uma tribo de canibais, que concede a cada
um deles um último desejo:
INGLÊS: - Quero fumar o meu cachimbo uma última vez.
CHEFE: - OK!
FRANCÊS: - Quero comer bêm pela última vez.
CHEFE: - OK!
PORTUGUÊS: - Quero comer morangos.
CHEFE: - Mas nesta época do ano näo há morangos...
PORTUGUÊS: - Näo faz mal, eu espero!
Um estudante de agricultura foi estagiar para casa de um agricultor. No primeiro dia olha para um campo onde uns grãos que doiravam ao Sol e diz:
- Os seus metodos são muito antiquados. Duvido que consiga tirar 20 alqueires de trigo deste campo.
- Também eu. Isso é centeio.
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