FERNANDO PESSOA
POETA PORTUGUÊS = 1888
/ 1935
Meditações Do Avô E Brinquedos Do Neto
Ao ver o neto a
brincar,
Diz o avô,
entristecido:
“Ah, quem me dera
voltar
A estar assim
entretido!
“Quem me dera o
tempo quando
Castellos assim
fazia,
E que os deixava
ficando
Ás vezes p’ra o
outro dia;
“E toda tristeza
minha
Era, ao accordar
p’ra vel’o,
Ver que a creada já
tinha
Arrumado o meu
castello”
Mas o neto não o
ouve
Porque está preoccupado
Com um engano que
houve
No portão para o
soldado.
E, emquanto o avô
scisma, e, triste,
Lembra a infancia
que lá vai,
Já mais uma casa
existe
Ou mais um castello
cai;
E o neto, olhando
afinal,
E vendo o avô a
chorar,
Diz: “Cahiu, mas não
faz mal:
Torna-se já a
arranjar.”
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