HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA = 1886
/ 1934
A Fortuna
Embora não fosse tão bonita de
rosto, Anália Thompson possuía uma infinidade de admiradores, a ponto de ter,
sempre, nas festas, um séquito, como o das rainhas.
— Viúva com dinheiro é isso
mesmo! — diziam as despeitadas.
E acentuavam:
— Beleza é, mesmo, coisa que ela
não tem!
Realmente, a conhecida senhora
não constituía uma cara fora do comum.
Fizessem, porém, no Rio, um
concurso de plástica feminina, e ninguém arrebataria o prêmio às mãos daquela
malsinada criatura.
Da cintura para baixo,
principalmente, a sua elegância era irrepreensível. O seu andar, sem exagero,
sem requebros, fazia lembrar entidades de outras épocas, tipos clássicos de
formosura feminina, criaturas que fizeram, de passagem, a glória fugitiva do
planeta. E Dona Anália sabia tanto o que valia, e onde estavam os seus
encantos, que, quando queria impressionar alguém, começava, logo, por dar-lhe
as costas.
Não obstante isso, a inveja
teimava em afirmar:
— É o dinheiro! Aqueles rapazes
todos que a cortejam são arrastados pelo dinheiro dela!
Certo dia, em uma festa no
palacete dos Mendes Barros, estava a moça num banco de jardim, sentada, quando
dela se aproximou, bonito e grosseiro, na sua estupidez dourada, o Flávio
Loureiro, curioso tipo de conquistador sem educação, e foi, logo, dizendo:
— É verdade, dona Anália: é
certo, mesmo, que a senhora tem fortuna?
— Eu? Tenho alguma... — explicou
a viúva, resolvida a divertir-se com aquele cavalo de pau.
— E está em prédios, em apólices,
em empresas comerciais... em suma; em que está empregada? — insistiu o bruto.
— Minha fortuna? — tornou a moça.
E olhando, de esguelha, para as
tábuas em que se sentava:
— Está no Banco...
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