domingo, 10 de dezembro de 2017

CONTO = Ivan Turgueniev

O Cachorro
Via: Tradução Rubens Figueiredo

  Nós dois no quarto: meu cachorro e eu. Lá fora, a tempestade uiva, desenfreada, assustadora. O cachorro está sentado à minha frente -e me olha direto nos olhos. Eu também olho para os olhos dele. Parece que quer me dizer alguma coisa. É mudo, sem fala, nem entende a si mesmo -mas eu o entendo. Entendo que neste instante, nele e em mim, vive o mesmo sentimento e entre nós não existe a menor diferença. Somos idênticos; em cada um, arde e brilha a mesma chama, pequena e trêmula. A morte virá voando, vai abanar sobre essa chama suas asas frias e largas...
E fim! Depois, quem poderá distinguir que chama ardeu em cada um de nós? Não! Não são um animal e um homem que se olham...
São dois pares de olhos idênticos, concentrados um no outro. E em cada ar de olhos, no animal e no homem, a mesma vida assustada tenta se agarrar no outro.

RÚSSIA, 1818-1883

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