domingo, 19 de março de 2017

POESIA = Adelmar Tavares



 Corpo E Sombra


“O corpo que hoje viste, ao fim do dia,
Seguir para uma cova que o esperava
Oitenta annos viveu... E não cansava!
Quem cansou foi a sombra que o seguia...

Oitenta annos em sua companhia,
Arrastada por terra como escrava!
Só quando elle no escuro repousava,
Ella no escuro repousar podia.

Oitenta annos! Liberta, finalmente,
Agora que o meteram n’um jazigo,
Sae lésta e leve, a espairecer contente...

E parece que em jubilo profundo,
Diz: - Emfim, só! Depois de haver comtigo
Errado, quase um seculo no mundo!...”

ADELMAR TAVARES
RECIFE-PE  =  1888-1963

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