A Cavalo
(George Auriol)
No tempo em que era apenas noivo da sua
esposa de hoje, o capitão Lundstrteon residia na cidade de Kungsback (onde, diz
ele, há uma velha fortaleza magnífica) e costumava ir visitar a sua futura, que
morava três ou quatro milhas mais longe, em uma povoação denominada Jonsered.
Quando fazia bom tempo, o velho pai de Elsa, a moça, lhe dizia:
— Lundstreon, meu amigo, o dia está
convidando a gente a dar um passeio ao lado de quem se quer bem; não é
verdade? Beba comigo um copo de vinho...
Sko!... Sko!... (à nossa saúde!) e vá! Você
é um excelente rapaz!
Lundstreon alugava então uma pequena
carriola, e saía a passeio com a rapariga, contente um, e contente outro,
porque, assim, se podiam beijar à vontade.
Certo dia, tomou ele a carruagem, mas o
dono dos cavalos explicou-lhe:
— Eu não posso dar hoje o pônei de costume.
Está doente. Vou atrelar, porém, meu cavalo castanho. É um animal roceiro mas,
no resto, um bom animal.
— Não há dúvida, — concordou Lundstreon; —
desde que ele ande, vai tudo bem.
E partiu, imediatamente, com a sua Elsa,
pelas campinas floridas.
A certa altura, porém, o maldito cavalo
castanho começou a fazer barulho por trás. Os senhores compreendem o que quero
dizer; não? É um vocábulo difícil de proferir; uma expressão vil; um termo de
se lhe torcer o nariz. Primeiro... segundo... terceiro... décimo... E
Lundstreon cada vez mais aborrecido com esse inconveniente, que, com franqueza,
tirava
toda a poesia do passeio.
A princípio, pensou que fosse apenas por um
momento; mas, quanto mais o cavalo corria, mais estalava. Parecia ter na
barriga uma metralhadora.
Lundestreon não sabia o que dissesse, não
ousando, mesmo, olhar a noiva, até que teve uma idéia: parar num albergue.
Desceu, apeou também a moça e, tomando-lhe do braço, começou, visivelmente
confuso:
— Minha querida, eu estou
envergonhadíssimo... Perdoa-me todo esse inconveniente... esses rumores que tu
vinhas escutando...
Elsa tornou-se vermelha como um galo.
— Ora, para que você me disse isso?!... —
gemeu, irritada.
E como quem sente uma desilusão:
— Eu pensei que era o cavalo...
HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA =
1886-1934
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