domingo, 28 de agosto de 2016

POESIA = Mauro Mota



O ESPELHO


Na Parede da sala,

essa porta de vidro,

ou somente a parede

essa porta fingida?



Diante dela fica

o duplo cara a cara.

Torna-se, ao mesmo tempo,

prisioneiro e testemunha



dessa prisão perpétua,

desse exílio no espelho

irônico, liberto

de não ser o que era.



Quem vai ao próprio encontro

de cada vez é outro

no cristal da Boêmia

e na moldura de ouro.



É a autocompanhia

nessa peça da casa,

exígua, todavia,

mais profunda e habitada,



Quem bate do outro lado

dessa porta? quem chama?

Que substância mora

no cristal e no estanho?

MAURO MOTA
RECIFE-PE, 1911-1984

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