A Superioridade Da
Aranha
Em
“A Sereníssima República"
“Senhores,
cumpre vencer os preconceitos. A aranha parece-vos inferior, justamente porque
não a conheceis. Amais o cão, prezais o gato e a galinha, e não advertis que a
aranha não pula nem ladra como o cão, não mia como o gato, não cacareja como a
galinha, não zune nem morde como o mosquito, não nos leva o sangue e o sono
como a pulga. Todos esses bichos são o modelo acabado da vadiação e do
parasitismo. A mesma formiga, tão gabada por certas qualidades boas, dá no
nosso açúcar e nas nossas plantações, e funda a sua propriedade roubando a
alheia. A aranha, senhores, não nos aflige nem defrauda; apanha as moscas,
nossas inimigas, fia, tece, trabalha e morre. Que melhor exemplo de paciência,
de ordem, de previsão, de respeito e de humanidade? Quanto aos seus talentos,
não há duas opiniões. Desde Plínio até Darwin, os naturalistas do mundo inteiro
formam um só coro de admiração em torno desse bichinho, cuja maravilhosa teia a
vassoura inconsciente do vosso criado destrói em menos de um minuto. Eu
repetiria agora esses juízos, se me sobrasse tempo; a matéria,
porém, excede o prazo, sou constrangido a abreviá-la. Tenho-os aqui, não
todos, mas quase todos; tenho, entre eles, esta excelente monografia de
Büchner, que com tanta subtileza estudou a vida psíquica dos animais.
Citando Darwin e Büchner, é claro que me restrinjo à homenagem cabida a
dois sábios de primeira ordem, sem de nenhum modo absolver (e as minhas
vestes o proclamam) as teorias gratuitas e errôneas do materialismo.”
RIO DE JANEIRO-RJ,
1839-1908
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