domingo, 8 de novembro de 2015

POESIA - Cesário Verde




  De Tarde


Naquele pequenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aquarela.

        Foi quando tu, descendo do burrico,
        Foste colher, sem imposturas tolas,
        A um granzoal azul de grão-de-bico
        Um ramalhete rubro de papoulas.

        Pouco depois, em cima duns penhascos,
        Nós acampamos, inda o sol se via;
        E houve talhadas de melão, damascos,
        E pão-de-ló molhado em malvasia.

        Mas, todo púrpuro, a sair da renda
        Dos teus dois seios como duas rolas,
        Era o supremo encanto da merenda
        O ramalhete rubro das papulas!
 
CESÁRIO VERDE
PORTUGAL, 1855-1886

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