O Filho
Terno cinzento, chapéu de palha, botinas
amarelas, bengala de castão de ouro debaixo do braço, vinha o Castro Rocha pela
Avenida, entre a rua São José e a Sete de Setembro, quando viu caminhando em
sentido contrário o Arnaldo Lamenha, que fora seu companheiro de turma na
Politécnica. Vendo-se, embora raramente, ou exatamente por isso, haviam
continuado amigos, muito camaradas, festejando-se com palavras amáveis toda a
vez que se encontravam.
- Olá, Arnaldo velho, como vai essa
mocidade? - saudou o Castro Rocha, abraçando-o com efusão.
O Lamenha retribui o gesto, sorriu com
felicidade, e puxaram-se, ao mesmo tempo, e num mesmo movimento, para a margem
do passeio, afim de não impedir a circulação.
- É verdade, - reatou o Rocha, batendo no
ombro do amigo, - tenho uma novidade a participar-te: mais um filho!
- Tu?
- É verdade.
- Homem ou mulher?
- Homem; um rapagão que é uma beleza!
- Então, meus parabéns, meu velho, - saudou
o Arnaldo, aplicando-lhe outro abraço.
E como se faltasse alguma coisa:
- E a senhora, como está?
- Minha mulher? - fez o Castro Rocha,
fechando a cara; - minha mulher, por enquanto, vai bem.
E ao ouvido do outro, confidencial:
- Felizmente, ela ainda não sabe de nada...
Deus me livre que ela saiba!...
HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA = 1886-1934
Nenhum comentário:
Postar um comentário