domingo, 7 de junho de 2015

CONTO = Humberto de Campos




O Filho

Terno cinzento, chapéu de palha, botinas amarelas, bengala de castão de ouro debaixo do braço, vinha o Castro Rocha pela Avenida, entre a rua São José e a Sete de Setembro, quando viu caminhando em sentido contrário o Arnaldo Lamenha, que fora seu companheiro de turma na Politécnica. Vendo-se, embora raramente, ou exatamente por isso, haviam continuado amigos, muito camaradas, festejando-se com palavras amáveis toda a vez que se encontravam.
- Olá, Arnaldo velho, como vai essa mocidade? - saudou o Castro Rocha, abraçando-o com efusão.
O Lamenha retribui o gesto, sorriu com felicidade, e puxaram-se, ao mesmo tempo, e num mesmo movimento, para a margem do passeio, afim de não impedir a circulação.
- É verdade, - reatou o Rocha, batendo no ombro do amigo, - tenho uma novidade a participar-te: mais um filho!
- Tu?
- É verdade.
- Homem ou mulher?
- Homem; um rapagão que é uma beleza!
- Então, meus parabéns, meu velho, - saudou o Arnaldo, aplicando-lhe outro abraço.
E como se faltasse alguma coisa:
- E a senhora, como está?
- Minha mulher? - fez o Castro Rocha, fechando a cara; - minha mulher, por enquanto, vai bem.
E ao ouvido do outro, confidencial:
- Felizmente, ela ainda não sabe de nada... Deus me livre que ela saiba!...


HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA  =  1886-1934

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