domingo, 24 de maio de 2015

POESIA = Nei Leandro de Castro



BAIRRO DAS ROCAS
Paisagens. O Galo Da Torre Observa


- O povo das Rocas é visto
pelo galo, ao amanhecer.
A manhã ali se põe
De pé antes de querer.

Ou seja, ali a manhã
não mais serve ao seu fim:
em vez de acordar, acorda-a
o mestre Valentim.

No cais do Canto do Mangue
é água mansa do rio,
apenas arrepiada
por uma onda de frio:

a pele cortada pela
lâmina corrente de ar
que sobre o dorso das águas
desce da noite do mar.

Dali os veleiros partem
todos a uma só hora
e transpõem a barra antes
que a transponha a aurora.

A mulher que permanece
não espera pelo homem.
E tudo tão rotineiro
como sua antiga fome

ou como o feto anual
que intumesce seu ventre
ou ainda como a morte '
de um tísico, seu parente.

Meninos sujos, sem cor
definida, fazem festa
nas poças frias de lama
da Rua da Floresta.

O galo da torre, olhando,
humanamente tece
um canto rubro de amor
às crianças., Mas permanece

— porque feito de metáfora -
silente, na altaneira
torre cinza de azulejos.
E depois olha a Ribeira.

NEI LEANDRO DE CASTRO
CAICÓ-RN = 1940

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