Ó Cidade
Noturna!
Recife De
Outubro
Velha, triste, fantástica cidade!
Desta humilde trapeira sem flores, sem poesia,
Alongo a vista sobre as águas,
Sobre os telhados.
Luzes das pontes e dos cais
Refletindo em colunas sobre o rio
Dão a impressão de uma catedral imersa,
Imensa, deslumbrante, encantada,
Onde, ao esplendor das noites velhas,
Quando a noite está dormindo,
Quando as ruas estão desertas,
Quando, lento, um luar transviado envolve o casario,
As almas dos heróis antigos vão rezar.
Velha, triste, fantástica cidade!
Desta humilde trapeira sem flores, sem poesia,
Alongo a vista sobre as águas,
Sobre os telhados.
Luzes das pontes e dos cais
Refletindo em colunas sobre o rio
Dão a impressão de uma catedral imersa,
Imensa, deslumbrante, encantada,
Onde, ao esplendor das noites velhas,
Quando a noite está dormindo,
Quando as ruas estão desertas,
Quando, lento, um luar transviado envolve o casario,
As almas dos heróis antigos vão rezar.
Sinto no meu
sangue a carícia da noite. . .
No silêncio as
horas morreram;
E ao saimento
Das horas mortas
Um sino toca.
E ao saimento
Das horas mortas
Um sino toca.
Caminho a
passo lento.
Creio que alguém me espia do alto, das cornijas.
Vai passando na sombra a ronda dos meus sonhos.
Creio que alguém me espia do alto, das cornijas.
Vai passando na sombra a ronda dos meus sonhos.
Toda a cidade,
eu vejo, está transfigurada:
É um campo desolado, negro, enorme,
Onde rasteja ainda
O último rumor de uma batalha
E a massa negra dos edifícios,
As torres agudas recortando o azul sombrio,
Cadáveres revoltos, remexidos,
Com os braços mutilados
Erguidos para o céu.
Ó minha triste e materna e noturna cidade
Reflete na minha alma rude e amargurada
O teu fervor católico, o teu destino, o teu heroísmo.
É um campo desolado, negro, enorme,
Onde rasteja ainda
O último rumor de uma batalha
E a massa negra dos edifícios,
As torres agudas recortando o azul sombrio,
Cadáveres revoltos, remexidos,
Com os braços mutilados
Erguidos para o céu.
Ó minha triste e materna e noturna cidade
Reflete na minha alma rude e amargurada
O teu fervor católico, o teu destino, o teu heroísmo.
JOAQUIM
CARDOZO
RECIFE-PE = 1897-1978
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