sábado, 26 de julho de 2014
ARIANO SUASSUNA (João Pessoa-PB, 1927-2014)
A massificação procura baixar a
qualidade artística para a altura
do gosto médio. Em arte, o gosto médio
é mais prejudicial
do que o mau gosto... Nunca vi um gênio
com gosto médio.
Arte pra mim não é produto de mercado.
Podem me chamar
de romântico. Arte pra mim é missão,
vocação e festa.
Eu digo sempre que das três virtudes
teologais chamadas, eu sou
fraco na fé e fraco na qualidade, só me
resta a esperança.
Eu sou o homem da esperança.
… que é muito difícil você vencer a
injustiça secular, que
dilacera o Brasil em dois países
distintos: o país
dos privilegiados e o país dos
despossuídos.
A tarefa de viver é dura, mas fascinante.
Que eu não perca a vonta
de de ter
grandes amigos, mesmo
sabendo que, com as voltas do mundo,
eles acabam
indo embora de nossas vidas.
A gente tem uma tendência para
acreditar que não morre.
"Depois que eu vi num hotel em São
Paulo um show de rock pela televisão, nunca mais eu critiquei os cantores
medíocres brasileiros. Qualquer porcaria como a Banda Calypso ainda é melhor
que qualquer banda de rock."
Sou um escritor de poucos livros e
poucos leitores. Vivo extraviado em meu tempo por acreditar em valores que a
maioria julga ultrapassados. Entre esses, o amor, a honra e a beleza que
ilumina caminhos da retidão, da superioridade moral, da elevação, da
delicadeza, e não da vulgaridade dos sentimentos.
Não sou nem otimista, nem pessimista.
Os ot
imistas são ingênuos,
e os pessimistas amargos. Sou um
realista esperançoso. Sou
um homem da esperança. Sei que é para
um futuro muito
longínquo. Sonho com o dia em que o sol de
Deus vai
espalhar justiça pelo mundo todo.
Não troco o meu "oxente" pelo
"ok" de ninguém!
"Tenho duas armas para lutar
contra o desespero, a tristeza
e até a morte: o riso a cavalo e o
galope do sonho. É com
isso que enfrento essa dura e fascinante
tarefa de viver."
ARIANO SUASSUNA
JOÃO PESSOA-PB
= 1927-2014
Lápide
Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinose badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
CRÔNICA = Luís Fernando Veríssimo
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
PORTO
ALEGRE-RS = 1936
Ser
um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto
mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar.
Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou
notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros
e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem
ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico, só alguém que se acha muito
superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só
ele acha que se sentir inferior é doença.
Todo
mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes.
Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O
extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém
descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar
sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre
quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha
existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido
gritando "Não me olhem! Não me olhem!" só para chamar a
atenção.
O
tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as
atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é
sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar.
Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o
tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a
não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.
O
tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é
vantagem. Para o tímido, duas pessoas são urna multidão. Quando não consegue
escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da
platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois
olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não
adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para
cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é
uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda
será lembrado quando as estrelas virarem pó.
POESIA = Patativa do Assaré
PATATIVA DO ASSARÉ
ASSARÉ-CE = 1909-2002
Eu Quero
Quero um chefe
brasileiro
Fiel, firme e justiceiro
Capaz de nos proteger,
Que do campo até a rua
O povo todo possua
O direito de viver.
Fiel, firme e justiceiro
Capaz de nos proteger,
Que do campo até a rua
O povo todo possua
O direito de viver.
Quero a paz e liberdade,
Sossego e fraternidade
Na nossa pátria natal,
Desde a cidade ao deserto,
Quero operário liberto
Da exploração patronal.
Quero ver, do sul ao norte,
O nosso caboclo forte
Trocar a casa de palha
Por confortável guarida;
Quero a terra dividida
Para quem nela trabalha.
Eu quero agregar de
dentro,
Do terrível sofrimento,
Do maldito cativeiro;
Quero ver o meu país
Rico de tudo e feliz
Livre do jugo estrangeiro.
A bem do nosso progresso,
Quero apoio do congresso
Sobre uma reforma agrária,
Que venha, por sua vez,
Libertar o camponês
Da situação precária.
Do terrível sofrimento,
Do maldito cativeiro;
Quero ver o meu país
Rico de tudo e feliz
Livre do jugo estrangeiro.
A bem do nosso progresso,
Quero apoio do congresso
Sobre uma reforma agrária,
Que venha, por sua vez,
Libertar o camponês
Da situação precária.
Finalmente, meus Senhores,
Quero ver entre os primores,
Debaixo do céu de anil,
As mais sonoras das notas
Do canto dos patriotas,
Cantando a paz do Brasil.
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