sábado, 29 de março de 2014

POESIA = Austro Costa


Arrabalde

 
No Arrabalde o domingo é uma ternura mística.

Padrinho Sol tudo abençoa,
Madrinha Tarde tem afagos de Avozinha.

Passam meninos, menininhos:
Vão à lição de Catecismo.

(O Senhor Vigário prometeu fotografar o grupo,
e os menininhos vão contentes
como para a primeira Comunhão.)

Passam, também, mocinhas pálidas
que freiras tristes acompanham.
São as órfãs do Asilo.
Vão receber a bênção do Santíssimo.

Branca, branquinha ao longe é um cromo,
um cromo ingênuo em cores mansas,
a igrejinha do Arrabalde.

O sino chama, docemente.
A Hora é suave. Tudo é suave...
E as asiladas, no seu passo de renúncia,
lá se vão no candor que a Tarde envolve...

Os cães não ladram: correm, brincam.
As galinhas passeiam gravemente.

No adro da igreja, na grama fofa,
o carneiro do Senhor Vigário
rumina, gordo como um franciscano.

Bananeiras balançam sombras
por sobre os muros carcomidos.

E, pelos muros carcomidos,
na rua ingênua do Arrabalde,
as lagartixas cumprimentam.

 

AUSTRO COSTA
LIMOEIRO-PE  1899-1953

 

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