“A vida é fictícia, as palavras perdem a realidade. E no entanto esta vida fictícia é a única que
podemos suportar. Estamos aqui como peixes num aquário. E sentindo que há outra
vida ao nosso lado, vamos até à cova sem dar por ela. Estamos aqui a matar o
tempo.”.
* * * *
“Existe uma certa grandeza em repetir todos os dias a mesma
coisa. O homem só vive de detalhes e as
manias têm uma força enorme: são elas
que nos sustentam.
* * * *
“Desde que se cumpram
certas cerimônias ou se respeitem certas formulas, consegue-se ser ladrão e
escrupulosamente honesto - tudo ao mesmo tempo. A honradez deste homem assenta
sobre uma primitiva infâmia. O interesse e a religião, a ganância e o
escrúpulo, a honra e o interesse, podem viver na mesma casa, separados por
tabiques. Agora é a vez da honra - agora é a vez do dinheiro - agora é a vez da
religião. Tudo se acomoda, outras coisas heterogêneas se acomodam ainda. Com um
bocado de jeito arranjas-lhes sempre lugar nas almas bem formadas”.
RAUL
BRANDÃO
PORTUGAL, 1867-1930
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