HUMBERTO
DE CAMPOS
MIRITIBA-MA = 1886
/ 1934
Uma Rapariga
Apressada
(CATULLE MENDES)
A
honesta avozinha começou primeiro por dar um par de bofetadas na pequena
desavergonhada, e, depois, enquanto a rapariga chorava a bom chorar; vermelha
como uma papoula, fez-lhe este discurso:
-
É, pois, verdade, teres um amante? E confessas, ousas confessar? Um amante! E
só com dezesseis anos! Com os olhos baixos, o arzinho modesto, parece que não
quebras um prato, e chegaste já a esse ponto no deboche e no cinismo! Quem te
visse julgaria só em bonecas ou num bebê japonês e, afinal, a boneca que a
menina tinha na cabeça é um homem! Que vergonha! É para uma pessoa fugir,
meter-se pelo chão a baixo! Como? Foi essa a educação que recebeste? Não tendo
na família senão bons e virtuosos exemplos, como pudeste cometer uma falta tão
grande? É preciso, palavra de honra, que tivesses o diabo no corpo!
Mas
o que mais exasperava a avó era ter a Luizinha conseguido enganá-la, apesar da
vigilância que sobre ela tinha exercido.
-
Porque, enfim, posso dizê-lo afoitamente, eu guardava-te noite e dia! Há três
anos que estás na minha companhia, e nunca saíste sozinha senão duas vezes: a
primeira, há oito dias, durante cinco minutos para comprar linha e agulhas, e a
segunda anteontem, durante uma hora, para ires a Batignolles ver a tua tia que
está doente. E uma hora só foi bastante para te aniquilares! As mais doidas,
esperam que lhes façam a corte, resistem um mês, seis meses, mesmo um ano, mas
tu, não, tu estavas muito apressada! Ah! brejeira! Numa hora, tu...
Mas
a rapariga, que, mesmo chorando, era bonita, interrompeu:
-
Não avozinha, não; estás enganada; não foi dessa vez.
E
desatando em choro:
-
Foi da primeira...
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