BARÃO DE ITARARÉ
Aparício
Torelly = RIO GRANDE-RS, 1895-1971
Propaganda Realista
Os poetas celibatários fizeram uma frase, que é repetida com entusiasmo pelos casais sem filhos:
— A criança é a alegria do lar.
Mas não é.
A criança poderia ser, de fato, a satisfação de seus pais
nos seguintes casos concretos, mesmo assim sujeitos a discussão:
1) quando não chora;
2) quando não faz sujeiras, e
3) quando está quieta.
Ora, todas as crianças choram por dá cá aquela palha. Todas as crianças cometem inconveniências de hora em hora, e todas as crianças normais têm bicho-carpinteiro. Logo, numa casa com crianças fungando, molhadas e irrequietas não pode haver tranqüilidade.
Uma criança que não chora, porém, é para os pais uma
constante preocupação. Uma criança que não suja as calcinhas é uma coisa
alarmante, que exige um purgativo. Uma criança sossegada deve estar, com
certeza, doente.
Em qualquer uma dessas três hipóteses, a criança é uma
tortura para um pai extremoso e, sem receio de errar, pode-se dizer que uma
criança quieta é sempre motivo para inquietação dos senhores genitores.
Uma criança que chora preocupa muito os pais, mas quando não chora preocupa muito mais.
Uma criança que chora preocupa muito os pais, mas quando não chora preocupa muito mais.
Há, portanto, uma inverdade na frase dos poetas solteirões,
quando afirmam que a criança é a alegria do lar. Trata-se de uma falsa
propaganda, que necessita ser em tempo corrigida, em benefício da conservação
da espécie e do povoamento do solo.
Apesar de todas as choradeiras e de todas as
inconveniências, nós devemos ser sinceros amigos das crianças, lembrando-nos
que nós também já demos muito trabalho a quem nos criou.
Mas o nosso entusiasmo pelo desenvolvimento da natalidade
não nos deve levar ao extremo de afirmar que as crianças são umas gracinhas,
porque isso seria ilaquear a boa fé dos candidatos inexperientes à paternidade.
Em vez de uma propaganda mentirosa, que levará o freguês, mais cedo ou mais tarde, a uma terrível desilusão, é mais conveniente dizer toda a verdade.
Em vez de uma propaganda mentirosa, que levará o freguês, mais cedo ou mais tarde, a uma terrível desilusão, é mais conveniente dizer toda a verdade.
O moço que se casa deve, portanto, saber, antes de tudo,
que lhe será muito difícil, nos dias que correm, ser uma boa mãe de família.
(1945)
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