sábado, 28 de dezembro de 2013

ARACAJU = SERGIPE

 












PENSAMENTOS / POESIAS IMAGENS




GRANDES PINTORES

KARL BRIULLOV = Rússia, 1799-1852 
 KARL BRIULLOV
 KARL BRIULLOV
 KARL BRIULLOV
 KARL BRIULLOV
 KARL BRIULLOV
 KARL BRIULLOV
 KARL BRIULLOV
 KARL BRIULLOV
KARL BRIULLOV = Rússia, 1799-1852

POESIA = Fernando Pessoa


 

 
Isto 



Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
 
 
FERNANDO PESSOA
PORTUGAL  =  1888-1935


CONTO = Stanislaw Ponte Preta


O Diário De Muzema

 

MUZEMA É UM bairrozinho pequeno e pacato, ali pelas bandas da Barra da Tijuca. Pertence à jurisdição da 32ª Delegacia Distrital e nunca dá bronca. Ou melhor, minto… não dava bronca porque esta que deu agora foi fogo. Diz que o delegado da 32ª estava em sua mesa de soneca tirando uma pestana, feliz com o sossego, quando um bando de perto de 200 pessoas invadiu a delegacia, carregando no ar um coitado, baixote e magrinho, com a cara mais amassada que pára-choque de ônibus de subúrbio. E a turba fazia um barulho de acordar prontidão. O delegado, que era o Levi, deu um pulo da cadeira e berrou:
— Chamem a Polícia!!!
— mas aí percebeu que ele mesmo é que era a Polícia e perguntou que diabo era aquilo. Logo todo mundo começou a berrar ao mesmo tempo, o que obrigou o Dr. Levi a berrar mais alto ainda, ordenando:
— Um de cada vez, pombas! Aí um dos que carregavam o pequenino, ordenou que os companheiros pusessem “aquele rato” no chão (a expressão é lá do cara) e começou a explicar:
— Nós somos moradores do bairro de Muzema, doutor Delegado.
— Sim. E esse pequenino aí?
— Pois é, doutor. Nós somos todos de lá e esse cretino aí também é. Imagine o senhor que ele tem um caderno grosso, que ele chama de “Meu Diário”, onde escreve as maiores sujeiras sobre a gente.
— Como é que é?
— estranhou o delegado. Começou todo mundo a berrar outra vez e, enquanto um guarda dava um copo de água para o diarista arrebentado, o delegado viu-se outra vez a berrar mais alto:
— Calem-se! Um só de cada vez! Foi aí que deram a palavra pro dono do caderno:
— É o seguinte, doutor: eu tenho um diário. Ando muito lá pela Muzema e ninguém nunca repara em mim. Assim eu posso ver o que os outros fazem sem ser importunado. Mas acontece que eu não sou fofoqueiro. Eu vejo cada coisa de arrepiar. Ainda ontem eu vi a mulher daquele ali (e apontou para um sujeito do grupo) num escurinho da praça, abraçada com aquele lá (e apontou um outro sujeito no canto da delegacia, que, ao ser apontado, encolheu-se todo). Esta informação bastou para que o assinalado marido partisse pra cima do encolhido e o tumulto se generalizasse. Coitado do delegado, já estava quase rouco, quando conseguiu reimplantar a ordem na 32a DD.
— Prossiga!
— Disse pro pequenino. O pequenino pigarreou e prosseguiu:
— Como eu dizia, eu tenho o meu diário e anoto nele tudo que vejo. Não faço fofoca com ninguém. Tudo que está escrito é verídico.
— Como é o seu nome? Onde você mora?
— Edson Soares. Moro lá mesmo na Muzema. Lote “A”, casa 18. O Delegado Levi pediu o diário e folheou algumas páginas. Havia coisas mais ou menos assim, escritas nele. “Dona Jurema, do lote “B”, casa 75, estava saindo de madrugada da casa 67 do mesmo lote, onde mora o Sebastião, que tem um cacho com ela há muito tempo”. Ou então: “Lilico continua fingindo que é noivo da filha de Dona Júlia, mas se aquilo é noivado eu sou girafa. Como eles mandam brasa, atrás do muro da casa dela”. O Delegado Levi tossiu, embaraçado, e quis saber como é que os personagens daquele diário tinham descoberto o que estava escrito ali. O pequenino foi sincero:
— Eu dei azar, doutor. Eu esqueci o diário num banco da pracinha e fui jantar. Quando eu voltei estava todo mundo em volta desse garoto aí (e apontou um garoto sorridente, que se divertia com o bafafá), e o miserável do garoto lendo em voz alta:”… o seu Osooo… Osório. Não: Osório. O seu Osório quando sai pra o trai… tralba… para o trabalho, devia levar a muuu… a mulher dele. Ela é muito assada… assada não… muito assanhada”.
— Eu achei o diário dele
— falou o garoto, mas calou-se logo ao levar um cascudo de um gordão que devia ser, na certa, o seu Osório. Já ia saindo onda outra vez. O pessoal do bairro pacato estava mesmo disposto a beber o sangue de Edson Soares, o historiador da localidade. Sanada, todavia, mais esta tentativa o Delegado Levi perguntou ao dono do diário:
— O senhor também é poeta?
— Mais ou menos, né?
— Eu pergunto
— esclareceu o delegado
— porque este versinho aqui está interessante, e leu no diário: “Para o José Azevedo / O futebol não cola / Pois se for cabecear / Na certa ele fura a bola”. Pimba… mais uma bolacha premiou a cara do poeta. Ninguém conseguia segurar José Azevedo, residente na Muzema, Lote “J”, casa 77. O pau roncou solto e só quando chegou reforço é que o delegado conseguiu botar em cana uns quatro ou cinco, inclusive o biógrafo muzemense. O resto mandou embora, aconselhando:
— Vocês vejam se não dão margem ao artista de se expandir tanto, em seu futuro diário, tá? O pessoal prometeu.

 STANISLAW PONTE PRETA

 

HUMOR



 


 


POESIA = Deolindo Tavares


O Poeta



Sou mais pobre do que Job.
Sou mais rico do que Salomão.
Sou um poeta. Sou o maior de todos os descobridores.
Sem navio, sem bússola e sem leme,
descubro istmos e estrelas.
Posso ser amado e odiado, condenado e insultado,
Sem odiar, sem condenar, sem insultar.
Sei tão somente amar e perdoar.
Não tenho castelos, nem rosas, nem amores,
Mas, em misterioso sonho,
Ora passeio no carro de Salomão,
Ora durmo sobre as cinzas de Job.
Alimento-me de céu, de flores e da beleza eterna
Das paisagens de Deus;
adormeço num som,
desperto numa cor,
morro afogado no mar de uma inesperada estrela.
Para mim não há, nem ontem, nem amanhã, nem depois,
Vida e morte, alegria nem dor.
Para mim o dia é uma eternidade.
A eternidade o menor tempo;
Para mim o tempo não existe,
Pois rasguei todos os calendários do mundo.
Um dia, tendo as mãos límpidas, a alma serena
E pureza em meu coração,
Caminharei em firmes passos para o céu de cristo ou de Maomé.”

  
DEOLINDO TAVARES
RECIFE-PE  =  1918-1942

 

CRÔNICA = Paulo Mendes Campos


Chatear E Encher


Um amigo meu me ensina a diferença entre “chatear” e “encher”. Chatear é assim: você telefona para um escritório qualquer na cidade.

— Alô, quer me chamar por favor o Valdemar?

— Aqui não tem nenhum Valdemar. 

Daí a alguns minutos você liga de novo.

— O Valdemar por obséquio.

— Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.

— Mas não é do número tal?

— É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar.

Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:

— Por favor, o Valdemar já chegou?

— Vê se te manca palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui?

— Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.

— Não chateia.

Daí a dez minutos, ligue de novo.

— Escute uma coisa: o Valdemar não deixou pelo menos um recado?
O outro dessa vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis.
Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:

— Alô. Quem fala aqui é o Valdemar! Alguém telefonou para mim?

 
 
PAULO MENDES CAMPOS
BELO HORIZONTE-MG  =  1922-1991

 

POESIA IMAGEM = Bastos Tigre


PRAIAS DO NORDESTE

 Calhetas-PE
 Calhetas-PE
 Mangue Seco-SE
Mangue Seco-SE 
 Mangue Seco-SE
 Mangue Seco-SE
 Mangue Seco-SE
 Porto de Galinha-PE
 Praia do Espelho-BA
 Rio da Barra-BA

 
 
 


GABRIEL GARCIA MARQUEZ


POESIA = Ascenso Ferreira


Mulata Sarará

  
O cajueiro te deu a flor para o cabelo;
deu-te o maracajá o agateado dos olhos
- teus olhos cujo olhar faz a gente dodói! 

No Brasil, quem te nega está fazendo é fita,
pois tu és, na verdade, uma coisa bonita: 

-Madeira que o cupim não rói!
-Madeira que o cupim não rói! 

Paris – que dá modas
costumes e gostos,
pinturas pros rostos,
carvão e carmim... 

Paris – dente de ouro!
- Boca de Tubarão!
- Goela de Sucuri!
Que engole Odaliscas
Rajás e Sultanas,
as Gueixas, Musmês,
os Beis e os Paxás...

 - E engoliu até a negra Josefina Baker!
Paris, contigo, topou foi osso!
 Foi rocha esquisita que nada destrói!
 Nosso Senhor abençoe teus avós de Lisboa...
 Madeira que o cupim não rói!
- Madeira que o cupim
não rói!



 

ASCENSO FERREIRA
PALMARES-PE  =  1895-1965

 

MILLÔR FERNANDES


A Mensagem



Num mundo em que a comunicação é tudo e o dinheiro sempre pouco, conta-se aqui uma história altamente moral sobre a inutilidade da primeira enquanto se economiza o segundo: 

E chamou o pintor e lhe encomendou a placa para anunciar a especialidade do seu negócio: “Nesta casa se vendem ovos frescos”. Além dos dizeres recomendou ao pintor que bolasse uma figura, uma alegoria referente ao ramo. E perguntou quanto era. O pintor disse que ficaria em 50.000. Cinquenta mil o quê?, indagou o comerciante, pensando, inutilmente, numa moeda mais desvalorizada do que o cruzeiro. Cinquenta mil cruzeiros, disse o pintor. Ah, não vale, disse então o comerciante. Como não vale?, retrucou o pintor, ofendido em sua arte mais do que atingido em sua economia. O senhor não poderia reduzir um pouco?, arriscou o comerciante. Claro que posso, disse o pintor, posso reduzir a figura e os dizeres. Como assim?, disse o negociante? Olha, explicou o pintor, pra começo de conversa não precisamos usar figura nenhuma. Se se diz que o senhor vende ovos não há necessidade de colocar nenhuma galinha pintada, não é mesmo? Se o normal são ovos de galinha, o fato de não ter nenhuma outra ave faz com que os ovos sejam, presumivelmente, de galinha. É certo, concordou o negociante. Então, fez o pintor, vinte mil cruzeiros de menos. Agora também não é necessário dizer nesta casa. Se o freguês passa por aqui e vê: “Se vendem ovos frescos”, já sabe que é nesta casa. Ele não vai pensar que é na casa ao lado, não é mesmo? Certíssimo!, exclamou o comerciante. Então, continuou o pintor, por que colocar “Se vendem”? Se o freguês potencial lê “Ovos Frescos”, já sabe que se vende. Ninguém pensaria que o senhor vai abrir uma casa comercial para alugar ovos ou apenas para expô-los, right? É mesmo!, espantou-se ainda mais o comerciante. Quanto ao “Frescos”, continuou impávido o pintor, refletindo melhor não é de boa psicologia usar essa palavra. “Frescos” lembra sempre a hipótese contrária, a de ovos “velhos”. Não deve nem ter passado pela cabeça do comprador a ideia de que seus ovos podem ser outra coisa senão frescos. Portanto, tiremos também o “frescos”! Certíssimo!, berrou o negociante, agora profundamente entusiasmado com a dialética do pintor. Façamos, portanto, apenas OVOS. Por favor, desenhe aí só essa palavra, bem bonita, bem clara: OVOS! Só ovos, ovos tout court, ovos em si mesmos, que se vendam pela sua pura e simples aparência de ovos, pelo seu inimitável oval! Então vamos lá, concordou o pintor. Mas antes de começar a usar o pincel, voltou-se para o negociante e perguntou, preocupado: Mas, me diga aqui, amigo ― pensando bem, por que vender ovos?

 

MILLÔR FERNANDES
RIO DE JANEIRO-RJ  =  1923-2012



 

JOÃO CABRAL DE MELO


sábado, 21 de dezembro de 2013

GRANDES PINTORES

 LEON ERBO = Bélgica, 1850-1907
 LEON ERBO
 LEON ERBO
 LEON ERBO
LEON ERBO 
LEON ERBO 
LEON ERBO 
LEON ERBO 
LEON ERBO
LEON ERBO = Bélgica, 1850-1907