Encarar a Morte É talvez sinal de prisão ao mundo
dos fenómenos o terror e a dor ante a chegada da morte ou a serena mas
entristecida resignação com que a fizeram os gregos uma doce irmã do sono; para
o espírito liberto ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e
passageira; não morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e
pela ideia, não é mais existente, para o que se soube desprender da ilusão, o
que lhe fere os ouvidos e os olhos do que o puro entender que apenas se lhe
apresenta em pensamento; e tanto mais alto subiremos quando menos considerarmos
a morte como um enigma ou um fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma
entre as formas.
AGOSTINHO DA SILVA
PORTUGAL, 1906-1996
in 'Diário de
Alcestes'
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