MÁRIO PRATA
UBERABA-MG
= 1946
Uma Tese É Uma Tese
Sabe tese,
de faculdade? Aquela que defendem? Com unhas e dentes? É dessa tese que eu
estou falando. Você deve conhecer pelo menos uma pessoa que já defendeu uma
tese. Ou esteja defendendo. Sim, uma tese é defendida. Ela é feita para ser
atacada pela banca, que são aquelas pessoas que gostam de botar banca.
As teses são todas maravilhosas. Em tese. Você acompanha uma pessoa meses, anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes assuntos. Tem tese que não acaba nunca, que acompanha o elemento para a velhice. Tem até teses pós-morte.
As teses são todas maravilhosas. Em tese. Você acompanha uma pessoa meses, anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes assuntos. Tem tese que não acaba nunca, que acompanha o elemento para a velhice. Tem até teses pós-morte.
O mais
interessante na tese é que, quando nos contam, são maravilhosas, intrigantes. A
gente fica curiosa, acompanha o sofrimento do autor, anos a fio. Aí ele
publica, te dá uma cópia e é sempre - sempre - uma decepção. Em tese.
Impossível ler uma tese de cabo a rabo.
São
chatíssimas. É uma pena que as teses sejam escritas apenas para o julgamento da
banca circunspecta, sisuda e compenetrada em si mesma. E nós?
Sim,
porque os assuntos, já disse, são maravilhosos, cativantes, as pessoas são
inteligentíssimas. Temas do arco-da-velha. Mas toda tese fica no rodapé da
história. Pra que tanto sic e tanto apud? Sic me lembra o Pasquim e apud não
parece candidato do PFL para vereador? Apud Neto.
Escrever
uma tese é quase um voto de pobreza que a pessoa se autodecreta. O mundo pára,
o dinheiro entra apertado, os filhos são abandonados, o marido que se vire.
Estou acabando a tese. Essa frase significa que a pessoa vai sair do mundo. Não
por alguns dias, mas anos. Tem gente que nunca mais volta.
E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a defesa da tese. E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro, intelectual que se preze, logo em seguida embarca noutra tese. São os profissionais, em tese. O pior é quando convidam a gente para assistir à defesa. Meu Deus, que sono. Não em tese, na prática mesmo.
E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a defesa da tese. E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro, intelectual que se preze, logo em seguida embarca noutra tese. São os profissionais, em tese. O pior é quando convidam a gente para assistir à defesa. Meu Deus, que sono. Não em tese, na prática mesmo.
Orientados
e orientandos (que nomes atuais!) são unânimes em afirmar que toda tese tem de
ser - tem de ser! - daquele jeito. É pra não entender, mesmo. Tem de ser
formatada assim. Que na Sorbonne é assim, que em Coimbra também. Na Sorbonne,
desde 1257. Em Coimbra, mais moderna, desde 1290.
Em tese (e
na prática) são 700 anos de muita tese e pouca prática.
Acho que,
nas teses, tinha de ter uma norma em que, além da tese, o elemento teria de
fazer também uma tesão (tese grande). Ou seja, uma versão para nós, pobres
teóricos ignorantes que não votamos no Apud Neto.
Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto que nos interessa e nada. Pra quê? Pra virar mestre, doutor? E daí? Se ele estudou tanto aquilo, acho impossível que ele não queira que a gente saiba a que conclusões chegou. Mas jamais saberemos onde fica o bicho da goiaba quando não é tempo de goiaba. No bolso do Apud Neto?
Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto que nos interessa e nada. Pra quê? Pra virar mestre, doutor? E daí? Se ele estudou tanto aquilo, acho impossível que ele não queira que a gente saiba a que conclusões chegou. Mas jamais saberemos onde fica o bicho da goiaba quando não é tempo de goiaba. No bolso do Apud Neto?
Tem gente
que vai para os Estados Unidos, para a Europa, para terminar a tese. Vão lá nas
fontes. Descobrem maravilhas. E a gente não fica sabendo de nada. Só aqueles
sisudos da banca. E o cara dá logo um dez com louvor. Louvor para quem? Que
exaltação, que encômio é isso?
E tem
mais: as bolsas para os que defendem as teses são uma pobreza.
Tem
viagens, compra de livros caros, horas na Internet da vida, separações, pensão
para os filhos que a mulher levou embora. É, defender uma tese é mesmo um voto
de pobreza, já diria São Francisco de Assis. Em tese.
Tenho um
casal de amigos que há uns dez anos prepara suas teses. Cada um, uma. Dia
desses a filha, de 10 anos, no café da manhã, ameaçou:
- Não vou
mais estudar! Não vou mais na escola.
Os dois
pararam - momentaneamente - de pensar nas teses.
- O quê?
Pirou?
- Quero
estudar mais, não. Olha vocês dois. Não fazem mais nada na vida. É só a tese, a
tese, a tese. Não pode comprar bicicleta por causa da tese. A gente não pode ir
para a praia por causa da tese. Tudo é pra quando acabar a tese. Até trocar o
pano do sofá. Se eu estudar vou acabar numa tese. Quero estudar mais, não. Não
me deixam nem mexer mais no computador. Vocês acham mesmo que eu vou deletar a
tese de vocês?
Pensando bem, até que não é uma má idéia!
Pensando bem, até que não é uma má idéia!
Quando é
que alguém vai ter a prática idéia de escrever uma tese sobre a tese? Ou uma
outra sobre a vida nos rodapés da história?
Acho que
seria uma tesão.
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