R U B E M B R A G A
CACHOEIRO
DO ITAPEMIRIM-ES = 1913-1990
O Jovem Casal
abril, 1953
abril, 1953
Estavam esperando o bonde e fazia muito calor. Veio um
bonde, mas estava tão cheio, com tanta gente pendurada nos estribos que ela
apenas deu um passo à frente, ele apenas esboçou com o braço o gesto de quem
vai pegar um balaústre — mas desistiram.
Um homem com uma carrocinha de pão obrigou-os a recuar mais
para perto do meio-fio; depois o negrinho de uma lavanderia passou com a
bicicleta tão junto que um vestido esvoaçante bateu na cara do rapaz.
Ela se queixou de dor de cabeça; ele sentia uma dor de
dente não muito forte, mas enjoada e insistente, mas preferiu não dizer nada.
Ano e meio casados, tanta aventura sonhada, e estavam tão mal naquele quarto de
pensão do Catete, muito barulhento: "Lutaremos contra tudo" — havia
dito — e ele pensou com amargor que estavam lutando apenas contra as baratas,
as horríveis baratas do velho sobradão. Ela apenas com um gesto de susto e nojo
se encolhia a um canto ou saía para o corredor — ele, com repugnância, ia matar
o bicho; depois, com mais desgosto ainda, jogá-lo fora.
E havia as pulgas; havia a falta de água, e quando havia
água, a fila dos hóspedes no corredor, diante da porta do chuveiro. Havia as
instalações que sempre cheiravam mal, o papel da parede amarelado e feio, as
duas velhas gordas, pintadas, da mesinha ao lado, que lhe tiravam o apetite
para a mesquinha comida da pensão. Toda a tristeza, toda a mediocridade, toda a
feiúra duma vida estreita onde o mau-gosto atroz e pretensioso da classe média
se juntava à minuciosa ganância comercial — um ovo era
"extraordinário", quando eles pediam dois ovos a dona da pensão
olhava com raiva, estavam atrasados dias no pagamento.
Passou um ônibus enorme, parou logo adiante abrindo com
ruído a porta, num grande suspiro de ar comprimido, e ela nem sequer olhou o
ônibus, era tão mais caro. Ele teve um ímpeto, segurou-a pelo braço disposto a
fazer uma pequena loucura financeira — "vamos pegar o ônibus!". Mas o
monstro se fechara e partira jogando-lhes na cara um jato de fumaça ruim.
Ele então chegou mais para perto dela — lá vinha outro
bonde, não, mas aquele não servia — enlaçou-a pela cintura, depois ficou
segurando seu ombro com um gesto de ternura protetora, disse-lhe vagas
meiguices, ela apenas ficou quieta. "Está doendo muito a cabeça?" Ela
disse que não. "Seu cabelo agora está mais bonito, meio queimado de
sol." Ela sorriu levemente, mas de repente: "ih, me esqueci da
receita do médico", pediu-lhe a chave do quarto, ele disse que iria
apanhar para ela, ela disse que não, ela iria; quando voltou, foi exatamente a
tempo de perder um bonde quase vazio; os dois ficaram ali desanimados.
Então um grande carro conversível se deteve um instante
perto dos dois, diante do sinal fechado. Lá dentro havia um casal, um sujeito
meio calvo de ar importante na direção, uma mulherzinha muito pintada ao lado,
sentiram o cheiro de seu perfume caro. A mulherzinha deu-lhes um vago olhar,
examinou um pouco mais detidamente a moça, correndo os olhos da cabeça até os
sapatos pobres — enquanto o senhor meio calvo dizia alguma coisa sobre anéis, e
no momento do carro partir com um arranco macio e poderoso ouviram que a
mulherzinha dizia: "se ele deixar aquele por quinze contos, eu fico."
Quinze contos — isso entrou dolorosamente pelos ouvidos do
rapaz, parece que foi bater, como um soco, em seu estômago mal alimentado —
quinze contos, meses e meses de pensão! Então olhou a mulher e achou-a tão
linda e triste com sua blusinha branca, tão frágil, tão jovem e tão querida,
que sentiu os olhos arderem de vontade de chorar de humilhação por ser tão
pobre; disse: "Viu aquela vaca dizendo que vai comprar um anel de quinze
contos?"
Vinha o bonde.
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