LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
PORTO
ALEGRE-RS = 1936
Alternativa
Envelhecer
é chato, mas consolemo-nos: a alternativa é pior. Ninguém que eu conheça morreu
e voltou para contar como é estar morto, mas o consenso geral é que existir é
muito melhor do que não existir. Há dúvidas, claro. Muitos acreditam que com a
morte se vai desta vida para outra melhor, inclusive mais barata, além de
eterna. Só descobriremos quando chegarmos lá. Enquanto isto vamos envelhecendo
com a dignidade possível, sem nenhuma vontade de experimentar a alternativa.
Mas há
casos em que a alternativa para as coisas como estão é conhecida. Já passamos
pela alternativa e sabemos muito bem como ela é. Por exemplo: a alternativa de
um país sem políticos, ou com políticos cerceados por um poder mais alto e
armado. Tivemos vinte anos desta alternativa e quem tem saudade dela precisa
ser constantemente lembrado de como foi. Não havia corrupção? Havia, sim, não
havia era investigação para valer. Havia prepotência, havia censura à imprensa,
havia a Presidência passando de general para general sem consulta popular,
repressão criminosa à divergência, uma política econômica subserviente e um
“milagre” econômico enganador. Quem viveu naquele tempo lembra que as ordens do
dia nos quartéis eram lidas e divulgadas como éditos papais para orientar os
fiéis sobre o “pensamento militar”, que decidia nossas vidas.
Ao
contrario da morte, de uma ditadura se volta, preferencialmente com uma lição
aprendida. E, se para garantir que a alternativa não se repita, é preciso
cuidar para não desmoralizar demais a política e os políticos, que seja. Melhor
uma democracia imperfeita do que uma ordem falsa, mas incontestável. Da próxima
vez que desesperar dos nossos políticos, portanto, e que alguma notícia de
Brasília lhe enojar, ou você concluir que o país estaria melhor sem esses
dirigentes e representantes que só representam seus interesses, e seus bolsos,
respire fundo e pense na alternativa.
Sequer
pensar que a alternativa seria preferível — como tem gente pensando — equivale
a um suicídio cívico. Para mudar isso aí, prefira a vida — e o voto.
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