sábado, 24 de agosto de 2013

CRÔNICA

VALDEMAR VALENTE
RECIFE-PE  =  1908-1992

A Zabumba


 No Nordeste, zabumba, além de ser o nome do bombo popular, designa também o conjunto musical típico, tradicionalmente mantido em cidades do interior. Conjunto geralmente formado de pifes (flautas de bambu), zabumba (bombo), tarol, popularmente chamado taró e, às vezes, um par de pratos.
Guerra-Peixe, grande estudioso do folclore musical nordestino, autor de vários trabalhos sobre o assunto, entre eles, o excelente Maracatus do Recife, vem de publicar no número 26 da Revista Brasileira de Folclore, interessante ensaio, baseado em pesquisa realizada na cidade de Caruaru, do agreste pernambucano, focalizando a zabumba, que é a orquestra típica nordestina.
Nesse estudo, o maestro Guerra-Peixe chama a atenção para aspectos diversos das zabumbas caruaruenses.
Depois de acentuar que o nome mais generalizado é zabumba — por causa da importância do bombo com seu característico toque cadencial — registra outras denominações, entre as quais: tabocal (em virtude dos pifes serem feitos de tabocas), banda-de-pife (lembrando as flautas), terne (porque o grupo instrumental é composto de três parelhas: dois pifes, dois tambores e dois pratos), às vezes também chamado de terno-de-oreia (porque os músicos tocam de oitiva).
Entre as denominações, ainda: quebra-resguardo, para indicar conjuntos que executam mal, quebrando o sossego alheio; esquenta-mulher, em alusão à alegria contagiante da música do zabumba, numa espécie de convite frenético à dança.
Com seu vasto repertório, no qual predominam músicas próprias, criadas pelos instrumentistas, com enxertos de cantigas ouvidas nos alto-falantes e aparelhos de rádio, abrangendo ainda dobrados, marchas, choros, valsas, tangos (os antigos tangos brasileiros), xotes (schottisch), quadrilhas, baiões e também ritmos diversos, deles destacando-se o martelo, o galope, a mazurca. A zabumba nordestina — tão bem representada em Caruaru — desempenha no meio das populações do interior importante e variada função social. Não só na vida social do catolicismo popular (novenas, procissões, batizados, casamentos), como em festas cívicas, durante os carnavais e como simples entretenimento público, nas retretas dos sábados e domingos.
No seu bem documentado estudo sobre orquestras típicas de Caruaru, o maestro Guerra-Peixe fala dos pifes e das escalas, entra em minúcias sobre o zabumba, o tarol e os pratos, não esquecendo de fixar o opulento documentário rítmico-melódico.


Nota dos editores: Algumas partituras e MIDIs de temas extraídos do artigo de Guerra-Peixe estão disponíveis
na seção Realejo.  =  (Valente, Valdemar. "A zabumba". Diário de Pernambuco. Recife, 23 de agosto de 19[??])


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