VALDEMAR VALENTE
RECIFE-PE =
1908-1992
A Zabumba
No Nordeste, zabumba, além
de ser o nome do bombo popular, designa também o conjunto musical típico,
tradicionalmente mantido em cidades do interior. Conjunto geralmente formado de
pifes (flautas de bambu), zabumba (bombo), tarol, popularmente
chamado taró e, às vezes, um par de pratos.
Guerra-Peixe, grande
estudioso do folclore musical nordestino, autor de vários trabalhos sobre o
assunto, entre eles, o excelente Maracatus do Recife, vem de publicar no número
26 da Revista Brasileira de Folclore, interessante ensaio, baseado em
pesquisa realizada na cidade de Caruaru, do agreste pernambucano, focalizando a
zabumba, que é a orquestra típica nordestina.
Nesse estudo, o maestro
Guerra-Peixe chama a atenção para aspectos diversos das zabumbas caruaruenses.
Depois de acentuar que o
nome mais generalizado é zabumba — por causa da importância do bombo com seu
característico toque cadencial — registra outras denominações, entre as
quais: tabocal (em virtude dos pifes serem feitos de
tabocas), banda-de-pife (lembrando as
flautas), terne (porque o grupo instrumental é composto de três
parelhas: dois pifes, dois tambores e dois pratos), às vezes também chamado
de terno-de-oreia (porque os músicos tocam de oitiva).
Entre as denominações,
ainda: quebra-resguardo, para indicar conjuntos que executam mal,
quebrando o sossego alheio; esquenta-mulher, em alusão à alegria
contagiante da música do zabumba, numa espécie de convite frenético à dança.
Com seu vasto repertório, no
qual predominam músicas próprias, criadas pelos instrumentistas, com enxertos
de cantigas ouvidas nos alto-falantes e aparelhos de rádio, abrangendo ainda
dobrados, marchas, choros, valsas, tangos (os antigos tangos brasileiros),
xotes (schottisch), quadrilhas, baiões e também ritmos diversos, deles
destacando-se o martelo, o galope, a mazurca. A zabumba nordestina — tão bem
representada em Caruaru — desempenha no meio das populações do interior
importante e variada função social. Não só na vida social do catolicismo
popular (novenas, procissões, batizados, casamentos), como em festas cívicas,
durante os carnavais e como simples entretenimento público, nas retretas dos
sábados e domingos.
No seu bem documentado
estudo sobre orquestras típicas de Caruaru, o maestro Guerra-Peixe fala dos
pifes e das escalas, entra em minúcias sobre o zabumba, o tarol e os pratos,
não esquecendo de fixar o opulento documentário rítmico-melódico.
Nota dos editores: Algumas partituras e MIDIs de temas extraídos do
artigo de Guerra-Peixe estão disponíveis
na seção Realejo. = (Valente,
Valdemar. "A zabumba". Diário de Pernambuco. Recife, 23 de
agosto de 19[??])
Nenhum comentário:
Postar um comentário