segunda-feira, 29 de julho de 2013

PENSAMENTOS

EDUARDO GALEANO
URUGUAI, 1940


Somos o que fazemos, mas somos, principalmente,
o que fazemos para mudar o que somos.

A  utopia está lá no horizonte.  Me aproximo  dois passos, ela se  afasta
dois passos.  Caminho dez passos  e o horizonte corre  dez passos.
 Por  mais que eu caminhe, jamais alcançarei.  Para que serve a
 utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma
culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.

Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar.

Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido
cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um
aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos
porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que
canta, ainda existe gente que brinca.

Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre

"A  memória guardará  o que valer a pena.  A memória  sabe  de
mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo."

"Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada,
dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas,
sou minha cara contra o vento, a contravento, e
sou o vento que bate em minha cara."

Não importa de onde vim, mais sim aonde quero chegar
A Igreja diz: o corpo é uma culpa. A Ciência diz: o corpo é uma máquina.
A publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa.


A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la.

Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento
 importa  mais  que  o amor, o  funeral  mais  que o  morto, as
roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus.

A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo
que foi, e contra o que foi, anuncia o que será.

Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória dos outros. Nossa
riqueza sempre gerou nossa pobreza por nutrir a prosperidade
alheia: os impérios e seus beleguins nativos.


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