E P I C U R O
GRÉCIA ANTIGA
= 341-270
FILÓSOFO
A Morte Não É Nada Para Nós
Habitua-te a pensar que a morte não é nada
para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um
conhecimento exato do fato de a morte não ser nada para nós permite-nos
usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma idéia de duração
eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida
para quem compreendeu nada haver de temível no fato de não viver. É pois, tolo quem
afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível
esperá-la.
Tolice afligir-se com a espera da morte, pois
trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de
todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não
existe, e quando chega, não existimos mais.
Não há morte, então, nem para os vivos nem
para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais.
Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os
males da vida. O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele
crê que seja um mal não mais existir. Assim como não é a abundância dos
manjares, mas a sua qualidade, que nos delicia, assim também não é a longa duração
da vida, mas seu encanto, que nos apraz. Quanto aos que aconselham os jovens a
viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingênuos, não apenas porque a
vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o
de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado.
Epicuro, in "A Conduta na Vida"
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