HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA = 1886
- 1934
As Pulseiras
Graciosamente morena, com uns grandes olhos negros,
cabelo ondeado, corpo flexível, e um andar de cobra no descampado, mme. Batista
Belo era, sem contestação admissível, uma das figuras mais acentuadamente chics
da cidade. Os seus vestidos não eram ricos, nem eram caros os seus chapéus;
era, porém, tão definido o cunho da sua elegância, que, nas festas, nos
teatros, nos passeios, era ela quem se revelava a rainha, a dominadora, a
vitoriosa, no meio de outras mais opulentamente trajadas.
Conhecedor da pérola que possuía, o marido
vigiava-a de perto, cumulando-a de mimos, - de colares, de brincos, e,
principalmente, de pulseiras, de que ela possuía, já, a mais soberba variedade.
Eram pulseiras de platina, com brilhantes; de ouro, com safiras; de prata, com
pérolas foscas; e eram, sobretudo, de metal mais ou menos liso, em número de
vinte ou trinta, que tilintavam ao menor movimento, dando à linda senhora,
quando ela passava na Avenida, um galhardo aspecto de burra-madrinha. À tarde,
ao saírem, o dr. Belo não deixava de recomendar:
- Lulu, as pulseiras? Já as puseste todas?
Um dia, intrigada com essa exigência galante o
marido, madame não pode mais, e interpelou-o:
- Augusto, por que exiges que eu use tanta
pulseira, quando saio? Isto já está, até, se tornando ridículo...
E insistindo:
- Por que é; hein?
- Por que é? - gracejou o desgraçado, relutando.
E num acesso de coragem:
- É para saber, no cinema, onde é que você anda com
a mão!
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