CLÓVIS CAMPÊLO
RECIFE-PE = 1951
Narciso Moderno
Narciso moderno,
já não preciso de lagos,
vejo o meu rosto espelhado
em superfícies polidas.
já não preciso de lagos,
vejo o meu rosto espelhado
em superfícies polidas.
Narciso moderno,
já não preciso ser belo,
nem morrer buscando o eterno,
nem deixar sangrar as feridas.
já não preciso ser belo,
nem morrer buscando o eterno,
nem deixar sangrar as feridas.
Nasciso moderno,
meus olhos são tubos de imagens
e em minhas veias correm
sangues intoxicados.
meus olhos são tubos de imagens
e em minhas veias correm
sangues intoxicados.
Narciso moderno,
já não carrego culpas
embora traga comigo
todos os sete pecados.
já não carrego culpas
embora traga comigo
todos os sete pecados.
Narciso moderno,
sinto-me observado
pelo olhar escandalizado
dos semáforos,
sinal dos tempos de hoje.
sinto-me observado
pelo olhar escandalizado
dos semáforos,
sinal dos tempos de hoje.
Modernas cavalgaduras,
biônicas criaturas,
comigo disputam um espaço,
consomem o mesmo ar,
buscam uma saída.
biônicas criaturas,
comigo disputam um espaço,
consomem o mesmo ar,
buscam uma saída.
Narciso moderno,
procuro o simulacro,
do mundo busco um retrato
vazio de emoção.
procuro o simulacro,
do mundo busco um retrato
vazio de emoção.
Narciso moderno,
basta-me um botão apertar
pra ver o mundo brotar
parido pela televisão.
basta-me um botão apertar
pra ver o mundo brotar
parido pela televisão.
Recife, 1990
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