MIGUEL TORGA
PORTUGAL = 1907 / 1995
Bucólica
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.
A
Morte
E o Poeta morreu.
A sombra do cipreste pôde enfim
Abraçar o cipreste.
O torrão
Caiu desfeito ao chão
Da aventura celeste.
Nenhum tormento mais, nenhuma imagem
(No caixão, ninguém pode
Fantasiar.)
Pronto para a viagem
De acabar.
Só no ouvido dos versos,
Onde a seiva não corre,
Uma rima perdura,
A dizer com brandura
Que um Poeta não morre.
E o Poeta morreu.
A sombra do cipreste pôde enfim
Abraçar o cipreste.
O torrão
Caiu desfeito ao chão
Da aventura celeste.
Nenhum tormento mais, nenhuma imagem
(No caixão, ninguém pode
Fantasiar.)
Pronto para a viagem
De acabar.
Só no ouvido dos versos,
Onde a seiva não corre,
Uma rima perdura,
A dizer com brandura
Que um Poeta não morre.
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