sábado, 30 de março de 2013

POESIA = João Cabral de Melo Neto


JOÃO CABRAL DE MELO NETO
RECIFE-PE  =  1920 / 1999

 

Cemitério Toritama

 

Para que todo esse muro?
Por que isolar estas tumbas
do outro ossário mais geral
que é a paisagem defunta?

A morte nesta região
gera dos mesmos cadáveres?
Já não os gera de caliça?
Terão alguma umidade?

Para que a alta defesa,
alta quase para os pássaros,
e as grades de tanto ferro,
tanto ferro nos cadeados?

Deve ser a sementeira
o defendido hectare,
onde se guardam as cinzas
para o tempo de semear.

 

 

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