sábado, 2 de março de 2013

EÇA DE QUEIRÓS = O Crime do Padre Amaro


O Crime Do Padre Amaro



Eça de Queirós



A Igreja sempre foi alvo de críticas na literatura, umas veladas, outras ferrenhas. Num país como Portugal, marcado pela forte religiosidade, atacar a Igreja é mexer num vespeiro que causará as piores reações, foi assim com José Saramago no século passado e também com Eça de Queirós, no século XIX. A acidez e a ironia com que se refere a Igreja Católica, seus personagens, seus hábitos e seu poder surpreende mesmo num texto lido quase um século e meio depois de sua publicação. Claro que a Igreja em O Crime do Padre Amaro é apenas um bode expiatório já que a intenção do autor é desmascarar (também) uma Portugal inteira, denunciando seu atraso político, científico, filosófico, sua mentalidade arcaica e tradicional (parte disso devido à influência do catolicismo), a hipocrisia e a corrupção vigentes. Eça de Queirós fez uma literatura militante (não no sentido panfletário), tenaz no desejo de transformar a sociedade através de sua pena, de esmiuçar seus detalhes mais sórdidos.

Ao contar a história do envolvimento do Padre Amaro com Amélia apontou que os problemas estavam todos ali e ninguém queria ver. Amaro, um sujeito que sabe usar a sua insipidez e submissão para manipular as pessoas e conseguir o que quer, revolta-se com o celibato imposto para o seu cargo na Igreja e não esforça-se em preservá-lo, pois outros sacerdotes também não se preocupam com isto, aventurando-se com outras mulheres. Amélia, filha de uma beata viúva, herda o fervor religioso fanático materno e idealiza o amor que sente pelo padre, por este ser um representante da Igreja e estar “mais próximo de Deus”, deturpando os ensinamentos religiosos que recebera.

O crime cometido pelo padre neste romance marco do Realismo-Naturalismo lusitano condensa toda uma classe (o clero), uma cidade provinciana (Leiria), todo um país ultrapassado por outras nações (Portugal) e ultrapassa o Atlântico e outros oceanos fazendo ecos em qualquer local dominado pelo poder secular quase onipresente da Igreja Católica.

 


 

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