CARLOS DRUMMOND
DE ANDRADE
ITABIRA-MG = 1902
/ 1987
Definitivo
Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das
coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente
esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas.
Por todas as cidades que
gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos.
Por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos.
Por todos os shows e livros
e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos
cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso
trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos
de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para
namorar.
Sofremos não porque nossa
mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar
confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse
interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso
time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque
envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim
que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca
chegamos a experimentar.
Por que sofremos tanto por
amor?
O certo seria a gente não
sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou
em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um
tempo feliz.
Como aliviar a dor do que
não foi vivido? A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo
mais!!!
A cada dia que vivo, mais
me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças
que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...
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