HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA = 1886
/ 1934
Capítulo LIXpítulo LXI
Juramento
Era uma obsessão aquilo do
Rodrigo Maia: ele havia de morrer cedo, deixando viúva a sua querida Eleonora,
a qual, tão linda, tão elegante, tão jovem, casaria outra vez, indo tombar
noutros braços.
— Que tolice, Rodrigo! —
protestava a esposa, nessa tarde. — Tu estás forte, moço, com saúde, por que
essa mania de falar em morte?
Com a cabeça do marido encostada
ao travesseiro de plumas do seio macio, Eleonora tranqüilizava o companheiro de
cinco anos de casamento. Que ele não se afligisse com essa idéia de que ela
casaria de novo, quando ele morresse. O seu nome, ela o guardaria eternamente,
através da vida.
E enquanto falava, ia-lhe
apertando a cabeça ligeiramente grisalha, de encontro ao decote cheiroso.
— E se casares? - teimou o
marido.
— Não caso não, filhinho; fica
tranqüilo.
— Jura, então!
Os lindos olhos para o teto, onde
o "abatjour" dançava embalado pela brisa doce do campo, a moça fez,
então, aquele juramento sublime:
— Pelas horas que são, eu te
juro, meu marido, que posso ficar viúva cinco, dez, vinte vezes, e não me
casarei nunca!
E beijando-lhe os cabelos
entremeados de prata, sob os quais os pensamentos, enganados, se acomodavam:
— Estás satisfeito?
Nenhum comentário:
Postar um comentário