A FOME
O Bicho
(MANUEL
BANDEIRA)
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre detritos.
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
Não era uma gato,
Não era um rato.
O poema de Manuel Bandeira não deixa dúvidas. Ele nos descreve uma pessoa reduzida à condição de bicho. Ele nos apresenta a fome em estado bruto. O homem - bicho do poema de Bandeira age como um animal, porque está excluído da cidadania, está faminto e sem dinheiro. Ao incluir no seu poema uma cena tão perversa da exclusão social, o poeta nos alerta para os absurdos da miséria e faz assim uma crítica aberta às injustiças e desigualdades.
Leia o texto abaixo.
"A fome
é exclusão. Da terra, da renda, do desemprego, do salário, da educação, da economia, da vida e da cidadania. Quando uma pessoa chega a não ter o que comer,
é porque tudo o mais já lhe foi negado. É uma espécie de cerceamento moderno ou
de exílio. A morte em vida. E exílio da terra.
A alma da
fome é política.
É gente que
começa o dia buscando o que comer que chega à noite sem nada. Pode-se imaginar
o quadro porque é o de todo dia para milhões de seres humanos: a fome da comida
e de tudo. A essa altura da vida da humanidade é incrível que isso
aconteça." (HERBERT DE SOUZA - Ética e Cidadania)
O texto
acima diz, a seu modo, o mesmo que disse o poema de Bandeira. Ele nos revela
também um quadro perverso de exclusão "da renda, do emprego, do salário, da educação, da economia, da vida e da cidadania."
Além disso,
o texto nos dá também indicações sobre as causas da fome. Ao afirmar que
"a alma da fome é política", o texto sugere que a solução do problema
da exclusão social passa pelas decisões políticas.
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