sábado, 12 de janeiro de 2013

BERTRAND RUSSEL


BERTRAND RUSSEL
PAÍS DE GALES = 1872-1970


Como Envelhecer

                                                                                                                              
       Psicologicamente, há dois perigos contra os quais a gente precisa guardar-se, na velhice. Um deles, é deixar-se a gente absorver indevidamente pelo passado. Não é bom viver-se de recordações, a lamentar os bons dias de antanho, ou em meio de tristeza pelos amigos que já se foram. Nossos pensamentos devem voltar-se para o futuro – para coisas em que há algo a ser feito. Isto nem sempre é fácil: nosso passado é uma coisa que pesa cada vez mais. É-nos fácil pensar que nossas emoções costumavam ser mais vivas, e que nosso espírito era mais penetrante. Se isso é verdade, deveria ser esquecido e, ser for esquecido, não será, provavelmente, verdade.

        A outra coisa a ser evitada é a gente agarrar-se aos jovens, na esperança de se sugar vigor de sua vitalidade. Quando nossos filhos se tornam adultos, querem viver suas próprias vidas e, se continuarmos a interessar-nos por eles como quando eram pequenos, é provável que nos tornemos um fardo para eles, a menos que nos sejam excepcionalmente indiferentes. Não quero dizer que não devamos interessar-nos por eles, mas nosso interesse deveria ser contemplativo e, se possível, filantrópico, mas não indevidamente emocional. Os animais tornam-se indiferentes aos filhos, logo que estes podem cuidar de si próprios, mas as criaturas humanas, devido ao longo período da infância, acham isso difícil.

        Penso que uma velhice satisfatória é mais fácil para aqueles que tem fortes interesses impessoais, envolvendo atividades adequadas. É nesta esfera que a longa experiência se torna realmente proveitosa, e é nessa esfera que a sabedoria nascida da experiência pode ser exercida sem que seja opressiva.

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