BERTRAND RUSSEL
PAÍS DE GALES = 1872-1970
Como Envelhecer
Psicologicamente, há dois
perigos contra os quais a gente precisa guardar-se, na velhice. Um deles, é
deixar-se a gente absorver indevidamente pelo passado. Não é bom viver-se de
recordações, a lamentar os bons dias de antanho, ou em meio de tristeza pelos
amigos que já se foram. Nossos pensamentos devem voltar-se para o futuro – para
coisas em que há algo a ser feito. Isto nem sempre é fácil: nosso passado é uma
coisa que pesa cada vez mais. É-nos fácil pensar que nossas emoções costumavam
ser mais vivas, e que nosso espírito era mais penetrante. Se isso é verdade,
deveria ser esquecido e, ser for esquecido, não será, provavelmente, verdade.
A outra coisa a ser
evitada é a gente agarrar-se aos jovens, na esperança de se sugar vigor de sua
vitalidade. Quando nossos filhos se tornam adultos, querem viver suas próprias
vidas e, se continuarmos a interessar-nos por eles como quando eram pequenos, é
provável que nos tornemos um fardo para eles, a menos que nos sejam
excepcionalmente indiferentes. Não quero dizer que não devamos interessar-nos
por eles, mas nosso interesse deveria ser contemplativo e, se possível,
filantrópico, mas não indevidamente emocional. Os animais tornam-se
indiferentes aos filhos, logo que estes podem cuidar de si próprios, mas as
criaturas humanas, devido ao longo período da infância, acham isso difícil.
Penso que uma velhice
satisfatória é mais fácil para aqueles que tem fortes interesses impessoais,
envolvendo atividades adequadas. É nesta esfera que a longa experiência se
torna realmente proveitosa, e é nessa esfera que a sabedoria nascida da
experiência pode ser exercida sem que seja opressiva.
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