A INUTILIDADE DE GUERRAS E REVOLUÇÕES
As guerras e as revoluções - há sempre uma ou outra em curso - chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror mas tédio.
Não é a crueldade de todos
aqueles mortos e feridos, o sacrifício de todos os que morrem batendo-se, ou
são mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma: é a estupidez que
sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inútil.
Todos os ideais e todas as
ambições são um desvairo de comadres homens. Não há império que valha que por
ele se parta uma boneca de criança. Não há ideal que mereça o sacrifício de um
comboio de lata.
Que império é útil ou que ideal
profícuo?
Tudo é humanidade, e a humanidade
é sempre a mesma - variável mas inaperfeiçoável, oscilante mas improgressiva.
Perante o curso inimplorável das
coisas, a vida que tivemos sem saber como e perderemos sem saber quando, o jogo
de mil xadrezes que é a vida em comum e luta, o tédio de contemplar sem
utilidade o que se não realiza nunca - que pode fazer o sábio senão pedir o
repouso, o não ter que pensar em viver, pois basta ter que viver, um pouco de
lugar ao sol e ao ar e ao menos o sonho de que há paz do lado de lá dos montes.
FERNANDO
PESSOA
PORTUGAL =
1888-1935
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