WALCYR CARRASCO
BERNARDINO DE
CAAMPOS-SP = 1951
Vovós Modernas
Foi-se o tempo em que as viúvas botavam um vestido
escuro e viviam esquecidas do mundo. Suas únicas alegrias eram os netos, a quem
se dedicavam como fadas-madrinhas. Mãe podia ficar brava, dar pito. Vovó
permitia tudo. Suas qualidades culinárias foram glorificadas em prosa, verso e
nos divãs dos terapeutas. Quantos pacientes não gastaram horas e horas
lembrando-se dos bolos e sequilhos que só elas sabiam fazer? Todos adoravam as
vovós de gestos adocicados, sempre prontas para ir à cozinha. Menos as
próprias. Tanto que, na primeira chance, mudaram.
Outro dia ouvi dois garotos conversando:
– Vou para a fazenda do namorado da vovó! – dizia
um.
– Ele é legal? O da minha é um chato.
Pois é. Os tempos são outros. Vovós tingem o
cabelo. Fazem plástica. Lipo. Vão à academia. Muitas vezes, namoram contra a
vontade dos filhos.
– Mamãe, eu não gosto daquele sujeito – brigava um
amigo meu outro dia.
– Sei cuidar de mim! Já troquei suas fraldas!
– Deixa, ela é uma teimosa! Depois não diga que não
avisamos! – lamentava-se a nora.
O próprio conceito de velhice mudou. Ou as pessoas
vivem mais ou se divertem durante mais tempo. Antes, alguém de 50 anos era
considerado velho. Hoje, aos 60, dizem que ainda é novo.
Conheço um taxista especializado em vovós.
– Vou, pego em casa, levo ao médico e para fazer
compras. Ajudo a carregar – ele me contou.
Qualquer empresário teatral paulista pode
confirmar. Produtores adoram as excursões de "velhinhas". São um
público fiel. Vão em vans. Depois saem para comer uma pizza. Adoram comédias. E
piadas maliciosas. Já existem academias apostando na terceira idade. Um
personal trainer me revelou:
– É uma alegria quando fazem movimentos que não
conseguiam antes!
Muitas são separadas, outras, viúvas. Tornam-se
amigas. Fazem programas juntas, sem obrigar a família a acompanhá-las. Vão
dançar. Às vezes tomam uma cerveja, por que não? Falam, é claro, de amores.
– Viu como ele me olhou? – diz uma.
– Eu acho que a reconheceu. Deve ser amigo do seu
neto! – observa uma, mais venenosa.
– Coisa nenhuma. Rapaz novo adora coroa!
Verdade absoluta. Já soube de vários casos. Muitos
jovens sentem atração por mulheres mais velhas. Que bom! O sol nasceu para
todos. Muitas, porém, preferem se relacionar com amigos e até ex-namorados do
passado. Fazem companhia um ao outro. Até surgem casamentos!
Há bastante preconceito. Não falta quem gostaria de
acorrentar avós ao fogão. Se várias delas abriram a cabeça, eles não. Eu mesmo,
confesso, no passado já andei distribuindo alguns exemplares de livros de
culinária a senhoras rebeldes. Adiantou? Só se dedicaram à cozinha as que já
gostavam quando novas. A solidão nunca despertou nenhuma vocação para as
panelas!
Acompanhei uma história muito próxima, na minha família.
Depois de quarenta anos de casada, veio a viuvez. Passado o luto, um novo amor!
Nem por isso deixou de dar carinho aos netos. Apenas acrescentou mais amor a
sua vida.
Não é regra. Inúmeras mulheres têm um temperamento
mais reservado. Preferem continuar com uma vida calma, roupas discretas,
dedicação total à família. Ótimo, quando é por vontade própria. Péssimo, se é
por pressão dos filhos.
Ninguém é obrigado a permanecer em um papel
inventado pela sociedade. As mulheres de terceira idade estão dando o grito de
libertação. É uma nova minoria ávida por seus direitos. Não será estranho se
surgir em breve o Movimento de Emancipação das Vovós. Garanto meu apoio!
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