sábado, 1 de dezembro de 2012

CONTO = Nestor de Hollanda


NESTOR  DE  HOLLANDA
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO-PE  =  1921-1970


O Lindo Anel


No salão de jogo de luxuoso hotel europeu, o fino cavalheiro ostentava riquíssimo anel, tão suntuoso que chamava atenção. Distinta milionária, à sua frente, não resistindo mais, elogiou a jóia. O fino cavalheiro passou o lindo anel as suas mãos e a distinta milionária, depois de examiná-lo:
- Deve valer mais de dois milhões de cruzeiros.
(Claro que o cálculo não foi em cruzeiros; foi em dólares. Mas vou narrar o caso assim mesmo, dando os valores, por conta própria.)
Depois de todos os presentes concordarem com o valor da jóia, a tecer novos louvores, o fino cavalheiro foi leal com a distinta milionária:
- Bem, minha cara senhora, trata-se de uma imitação. De fato, é imitação valiosa, que me custou cinqüenta mil cruzeiros, mas as pedras não são reais.
Houve espécie de indignação geral. Todos protestaram, porque entendiam de jóias, principalmente a distinta milionária, que se sentia profunda conhecedora do assunto:
- Essa não!... Garanto como é real!...
Por mais que o fino cavalheiro insistisse em que se tratava de imitação, ninguém quis acreditar. E a distinta milionária acabou por lhe fazer desafio:
- Nesse caso, compro sua imitação por um milhão de cruzeiros.
- Eu não aceitaria, minha cara senhora. Seria desonestidade vender-lhe um anel que me custou cinqüenta mil cruzeiros, pelo preço que me propõe.
- Mas eu aceito.
- De modo algum, recusou-se o fino cavalheiro. Mas a distinta milionária teimou demais. Ele, então, fez proposta que ela aceitou:
- A senhora leva este anel a seu joalheiro de confiança. Amanhã, a esperarei aqui na presença de todos. Se seu joalheiro disse que vale um milhão, eu lhe venderei o anel.
A distinta milionária, no dia seguinte, estava na joalharia de sua maior fé e amizade. O perito olhou o anel e não teve dúvida:
- Vale mais de dois milhões.
- Mas o dono pensa que é imitação e me vende por um milhão.
- Pode comprar, madama, sem o menor receio. Ele é bobo.
Na noite do mesmo dia, todos estavam no salão do luxuoso hotel, ansiosos pelo resultado. A distinta milionária devolveu o anel ao fino cavalheiro e manteve a oferta, já então grandemente interessada:
- Meu joalheiro disse que posso fazer o negócio.
- Mesmo assim - insistiu o fino cavalheiro - só lhe venderei o anel se a senhora assinar documento, afirmando que comprou uma imitação, que me custou cinqüenta mil cruzeiros, por um milhão.
- Assino.
O fino cavalheiro virou-se para os presentes:
- Os senhores, como testemunhas, assinarão o mesmo documento, atestando que avisei tratar-se de imitação?
Todos concordaram. Ali mesmo os documentos foram elaborados. A distinta milionária pagou o milhão. E o anel lhe foi entregue pelo fino cavalheiro.
No dia imediato, a distinta milionária meteu o lindo anel no dedo e passou pela joalheria:
- Comprei o anel.
O joalheiro, ao ver a peça em seu dedo, alarmou-se:
- Perdão, madama, mas não foi este que a senhora trouxe aqui ontem. O de ontem era verdadeiro. Este é uma imitação boa, bem-feita, que deve valer uns cinqüenta mil cruzeiros. É outro!
O fino cavalheiro ainda ficou algum tempo no luxuoso hotel. A polícia quis prendê-lo, mas nada pode fazer, pois não encontrou a jóia verdadeira. E ele, ofendido, acabou processando a distinta milionária por injúria, cobrando-lhe a indenização de cinco milhões por danos morais...

(Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 31 de março de 1964)

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