ASCENSO FERREIRA
Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira (Palmares PE 1895 - Recife PE 1965). Poeta e escritor. Filho do comerciante Antônio Carneiro Torres e da professora primária de escola pública Maria Luísa Gonçalves Ferreira, que lhe ensina as primeiras letras. Órfão aos treze anos, começa a trabalhar como balconista em loja de propriedade do padrinho de batismo. Passa a residir em Recife aos 24 anos, trabalhando como escriturário do Tesouro do Estado de Pernambuco. Em 1922, começa a publicar seus poemas nos jornais Diário de Pernambuco e A Província. Em 1925, participa das manifestações modernistas em Pernambuco. Viaja a vários estados brasileiros para promover recitais. Em 1955, toma parte ativa na campanha de Juscelino Kubitschek (1902 - 1976) para a presidência e, em 1956, é nomeado para dirigir o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, em Recife. A nomeação, entretanto, é cancelada em seguida, devido à pressão de um grupo de intelectuais locais que não aceitam nesse cargo o poeta com fama de boêmio e irreverente. É, então, nomeado assessor do Ministério da Educação e Cultura. Morre em 5 de maio de 1965, poucos dias antes de completar 70 anos.
COMENTÁRIO CRÍTICO
Ascenso Ferreira inicia sua carreira como poeta fazendo uso
de modelos poéticos tradicionais, compondo sonetos, baladas e madrigais. Só
depois da Semana de Arte Moderna e sob a influência de Mário
de Andrade (1893 - 1945), Joaquim
Cardozo (1897 - 1978) e Luís
da Câmara Cascudo (1898 - 1986), entre outros, é que sua poesia se volta
para os temas regionais ligados ao universo dos engenhos, das casas-grandes, da
cana-de-açúcar, dos vaqueiros, dos cangaceiros, dos cegos violeiros, dos
folguedos e das lendas populares. Manuel Bandeira observa que os poemas de
Ascenso Ferreira "são verdadeiras rapsódias nordestinas, nas quais se
espelha amoravelmente a alma ora brincalhona, ora pungentemente nostálgica das
populações dos engenhos".
A adesão ao Modernismo responde não apenas pelo retorno às
fontes regionais e ao folclore. Há também a incorporação de procedimentos
caracteristicamente modernistas, como o aproveitamento poético da linguagem
popular e o humor, inclusive na forma de poema-piada. O humorismo é empregado
para explorar com irreverência ou malícia temas e costumes ligados à cultura
local, além de certos atributos "nacionais", como o mito da
"preguiça inata" dos brasileiros, que os modernistas, a exemplo
de Macunaíma, o Herói sem nenhum Caráter de Mário de Andrade, tendem
a valorizar, com a intenção de ironizar a ética do trabalho. É esse também o
tema de um famoso poema do autor de "Catimbó: Hora de comer ? comer! /
Hora de dormir ? dormir! / Hora de vadiar ? vadiar! / Hora de trabalhar? / ?
Pernas pro ar que ninguém é de ferro!".
A poesia de Ascenso Ferreira é ainda marcada por um senso
aguçado do ritmo, como se percebe nos famosos versos dedicados ao trem de Alagoas,
correndo sobre os trilhos e passando pelo município pernambucano de Catende,
vizinho à cidade natal do poeta: "Vou danado pra Catende,/ vou danado pra
Catende,/ vou danado pra Catende / com vontade de chegar [...]".
Mário de Andrade chega a dizer que o poeta pernambucano inventa um tamanho
compromisso entre fala e musicalidade que "mais sistematização sonora
seria diretamente música". O próprio modo de divulgação dessa poesia, na
forma de recitais do poeta pelo país, parece evidenciar esse compromisso referido
por Mário de Andrade. Ainda com relação às estratégias de divulgação, com a
publicação de seus Poemas em 1951, tem-se pela primeira vez no Brasil
a edição de um livro que traz encartado um disco de poemas recitados pelo seu
autor, incluindo-se aí o referido poema O Trem de Alagoas, musicado por
Villa-Lobos (1887 - 1959).
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