WALCYR
CARRASCO
BERNARDINO
CAMPOS-SP = 1951
Um Carnaval Inequecível
O
sonho dos dois casais era paz no carnaval. Nada de samba! Munidos de toneladas
de protetor solar, partiram em direção a Camburi, no Litoral Norte. Casa
alugada de um amigo de um vizinho. Preço bom. Pela descrição, a poucos metros
do mar. Abarrotaram-se de mantimentos: pães de fôrma, frios, frutas, água,
salsichas e tudo o que se possa necessitar no caso de uma guerra atômica. No
caminho se encheram de biscoitos de polvilho. Nenhum resistia ao crec, crec das
mordidas!
Ir
a pé teria sido mais rápido. Ouviram todos os CDs várias vezes. A conversa foi
marcada por mimos.
–
Você engordou, Rutinha? – perguntou gentilmente Renato.
–
Até perdi 2 quilos no meu novo regime, faz tempo que não me vê. Falei para a
Beth fazer também. Não é, Beth?
–
Sempre fui magra, só estou um pouquinho fora do...
–
Mas uma boa alimentação também ajuda a eliminar a flacidez!
–
E você, Rique, tão calado. Olha, não vai passar o carnaval todo assim. Não é o
único que está prestes a perder o emprego – contribuiu Beth.
Crec,
crec, crec! Trocaram amenidades durante as sete horas da viagem que costuma
durar duas e pouco. Ao chegarem, estavam a ponto de se estrangular.
Mais
um drama: descarregar o carro. Existe coisa pior que descarregar carro após a
estrada? Beth correu para tomar banho. Reclamaram. Ela argumentou:
–
Estou toda melecada.
Ressurgiu
radiosa quando cada pote de iogurte já estava na geladeira velha, os pães
embaixo da pia, e Renato conectado à internet.
–
Veio aqui para ficar no computador? – aproximou-se, dengosa.
–
Só um minutinho! – declarou ele, anunciando estar ocupado pelas próximas cinco
horas.
–
Vem me ajudar a abrir as janelas – implorou Rutinha, espirrando.
Tinha
alergia a bolor. A casa úmida. Colchões velhos. Renato tentou fazer uma
macarronada. Acabou o gás. Ajeitaram-se com sanduíches.
Dia
seguinte, o sol! Atracados a guarda-sóis e cadeiras, partiram para a praia. A
praia?
–
Fica para lá. Melhor ir de carro! – indicou um rapaz.
Caminho
péssimo. Sacolejaram até a rua principal. Não havia vaga. Mais fácil seria no
centro de São Paulo. Deixaram o carro alguns quarteirões depois. Saltaram como
rãs ao chegar à areia fervente. Otimista, Rique abriu os braços:
–
Vou dar um mergulho.
A
praia estava coalhada de placas de... "Perigo!". Aproximou-se de um
grupinho, por segurança. Quase foi atropelado por um jet-ski. Rastejou até o
guarda-sol. Coberta de óleo, Rutinha parecia um linguado prestes a ser lançado
na frigideira.
–
Tudo bem, amor? – sorriu ela.
Naquele
instante decidiu se separar.
Sentiram
obrigação de aproveitar a praia, apesar do sol escaldante. Na volta, mal
conseguiram achar o carro. Dentro, um forno. Compraram gás. Cozinharam.
Exaustos, caíram nas camas. Rostos e ombros ardendo!
Então,
iniciou-se... o samba! Folia na pousada ao lado! Outro vizinho ligou a
televisão no máximo para assistir ao desfile das escolas. Remexeram-se nas
camas até amanhecer.
No
terceiro dia, quase não se agüentavam em pé. Peles grelhadas. Rique descobriu
todos os defeitos de Rutinha. Aliou-se a Beth contra Renato. Os casais
decidiram ter conversas definitivas depois da volta.
Enfiaram-se
no carro com areia até o cabelo. Pacotes de comida que sobraram. Mais sete
horas. Ao chegar, Rutinha viu a irmã na porta. Espirrou. Arreganhou os lábios.
Expressou o argumento comum:
–
Foi uma delícia!
Neste
ano, já separados, os quatros não deixam por menos. Querem se esbaldar na
avenida.
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